ENTRE A ROÇA E A VENDA - Revista CARTUM INTERATIVA nº 191.

 



A vida na Colônia Itajahy não era fácil. Depois de derrubar a mata, construir a moradia e preparar a plantação, a vida entrava no ritmo.

As primeiras habitações foram feitas de troncos de palmito e cobertos com palhas, cujo tamanho era de 4 por 6 metros.

 As famílias recebiam um subsídio (valor em dinheiro pago pelo governo) durante os seis primeiros meses para poderem se sustentar até que a lavoura desse fruto. 

Existiam poucos animais de tração; não havia arados. As sementes de trigo, cânhamo e centeio apodreciam no solo ou eram destruídas pelos pássaros e insetos. As enchentes, as geadas, as pragas de ratos que passam os rios migrando de norte a sul da colônia, as lagartas, as nuvens de pássaros negros etc., tudo contribuía para aumentar as dificuldades. 

A Colônia era considerada como um “... lugar tão remoto, de difícil comunicação, falta de recursos e onde tudo há de se preparar”. Local de negócios mais próximo era Itajaí, cerca de 4 dias de viagem.

Além do trabalho na roça, realizavam trabalhos na abertura de estradas e construção de pontes e recebiam em dinheiro, o que ajudava a família a se sustentar. Boa parte dos produtos agrícolas produzidos pelos colonos era negociada nas vendas (casas de comércio). O negócio era na base da troca.

O primeiro negócio registrado pertencia ao itajaiense Joaquim Pereira Liberato. Logo surgiriam outros.




Três anos após sua fundação, em 1863, os relatórios da diretoria apontavam a existência de 5 casas comerciais, sendo que em 1876 já eram 14. 

As vendas, como eram chamadas as casas comerciais, eram encontradas na Sede (atual centro), ou no cruzamento das estradas e no centro dos núcleos coloniais. Ali, as mercadorias eram trocadas “in natura”, “o colono entregava ao vendeiro boa parte da sua produção agrícola, mas pode-se dizer que o colono ‘compra a ferradura, pagando com o cavalo’”. 

O vendeiro adquiria dos colonos o excedente da produção colonial e lhes dava em troca sal, toucinho, pólvora, charque, ferramentas, pregos, corda, querosene, chumbo, louça, remédio, velas de sebo, tecidos, etc. 

Era também na venda que o colono ia buscar sua correspondência. Sob balcão, os negócios eram discutidos, enquanto se tomava café com mistura ou outras bebidas, os mais diversos assuntos que o vendeiro, que lê jornal e mantém contato com as cidades vizinhas, transmitia aos colonos. 


Por volta de 1867 já existiam na colônia 2 padarias e 7 vendas ou armazéns mais ou menos sortidos. Fabrica-se charutos para consumo local, com fumo produzido aqui mesmo. Já tinha 4 cervejarias.

Os colonos ficavam em uma posição desigual. Nunca viam dinheiro. Pagavam caro pelos produtos dos vendeiros e recebiam pouco pelas suas mercadorias. Só recebiam dinheiro quando negociavam banha de porco ou fumo em folha. Mas ambos os produtos eram difíceis de produzir. Vejamos: para obter boa banha, era preciso plantar muito milho para tratar os porcos. Assim, tinham pouco tempo para plantar outros produtos. Já o fuma exigia muito cuidado e tempo. Para conseguir dinheiro tinha que plantar fumo e produzir banha. Esses dois produtos eram cobiçados pois tinham alto valor comercial. Vale lembrar os Matarazzo em SP que enriqueceram produzindo vendendo banha de porco nesta época. Ainda assim, ficavam refém dos vendeiros que sabiam os preços praticados em Itajaí e Desterro, e tinham dinheiro para negociar.



 Os vendeiros de maior destaque em Brusque foram Guilherme Krieger, João Bauer, Augusto Klappoth, Eduardo Buettner e Carlos Renaux.


Pesquisa: Robson Gallassini (in memoriam)

 

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