BRUSQUE ONTEM - Cônsul Carlos Renaux - Revista CARTUM INTERATIVA nº 172.
Quem anda pelas ruas de Brusque pode perceber a influência de Karl Christian Renaux. Seu nome “aportuguesado” para Carlos Renaux intitula hospitais, avenida, escola, clube, sociedade e estádio de futebol. De fato, o imigrante alemão foi um personagem de muita importância na história de Brusque. Apesar de nascer na Alemanha, a grafia do sobrenome Renaux nos revela sua origem francesa. Segundo a tradição da família, o trisavô de Carlos servia na guarda do rei Luís XVI e com a Revolução Francesa, muda-se para a Renânia. Carlos Renaux nasce em 1862, em Loerrach, uma cidade do sudoeste da Alemanha, perto da fronteira com a França e a Suíça.
Trecho do Anuário: "Notícias de Vicente Só", Edição nº 68 (2021) - Casa de Brusque / UNIFEBE
Vida na Europa
Nasceu no dia 11 de março de 1862 em Loerrach, Grão-Ducado de Baden, Alemanha.
Era filho de Johann Ludwig Renaux e de Christina Sophie Ludin Renaux, etnicamente franceses da região de Damvillers, na Alsácia-Lorena e radicados em Loerrach-Stetten, na Alemanha.
Foi batizado na Igreja Luterana St. Fridolin, em Lörrach-Stetten como Karl Christian Renaux. Tinha três irmãos: Wilhelm (1853), Ludwig (1857) e Oskar Friederich (1865).
Ainda na sua cidade natal, frequentou a escola Pedagógica Graoducal e o Ginásio de Loerrach, o equivalente ao atual ensino médio.
A partir de 1879, após concluir os estudos, foi aprendiz no Banco Hipotecário de Loerrach (KreishypothekenBank) durante 3 anos e 5 meses. Queria seguir carreira militar, como outros membros da família, mas não foi aceito no serviço militar alemão por ser deficiente auditivo. Frustrado, em setembro de 1882, Carlos Renaux deixou o torrão natal e emigrou para o Brasil. Antes de emigrar, obteve, em 30 de agosto de 1882, uma carta de recomendação escrita por seu gerente no banco, com o seguinte teor:
"O portador deste, Sr. Karl Renaux aqui residente, completou em nosso banco o curso de aprendiz em 3 anos, tendo continuado, por mais 5 meses, como caixeiro ao nosso serviço. Desempenhou-se ao nosso contento de todos os serviços ocorrentes no escritório, tendo exercido, de vez em quando, as funções de caixa, no que demonstrou habilidade e domínio da matéria, lastimando ter ele resolvido abandonar-nos com o fim de aperfeiçoar seus conhecimentos em outra parte.
Passamos-lhe a presente carta, qualificando-o como moço digno de confiança, inteligente, reto e ativo, merecedor de nossas melhores recomendações (UNIFEBE/Villa Renaux, 2020)."
A chegada de Carlos Renaux ao Brasil
Quando Renaux emigrou para o Brasil, em 1882, aportou no Rio de Janeiro onde procurou trabalho. O Brasil vivia, então, o Segundo Reinado do chamado "Brasil Império" (período de 1822 a 1889), e Dom Pedro II era o Imperador do Brasil (de 1840 a 1889). Cidade aberta ao mundo desde o período colonial, o Rio de Janeiro viu sua dimensão de cosmopolitismo projetar-se com a fixação da corte portuguesa no seu espaço e na sedimentação de sua condição de capital.
Ao longo do século XIX, durante o período do Brasil Império, fixou residência no Rio de Janeiro um sem-número de diplomatas e negociantes oriundos dos mais diversos países. Capital nacional da cultura e de aspectos mais dinâmicos dela, como a moda, o Rio de Janeiro ambientou-se com as novidades que constantemente chegavam do exterior, tornando-as parte da dinâmica sóciocultural da cidade. Natural, portanto, que Carlos Renaux tenha tentado, inicialmente, estabelecer-se lá.
Outro comerciante de Salto Wissbach era Luis Altenburg. Em 1883, Renaux deslocou-se para a Vila de Gaspar, onde Luis Altenburg, seu novo empregador e futuro cunhado, e um dos principais comerciantes de Blumenau, tinha uma filial.

Pouco tempo depois, graças à sua rara inteligência e capacidade organizadora, Renaux assumiu, em Brusque, o cargo de gerente da filial de Asseburg & Willerding, atuante no comércio de exportação de produtos coloniais em Itajaí e que originou a primeira empresa regular de transporte entre Itajaí e Blumenau. Um ano depois de assumir como empregado na Asseburg & Willerding, adquiriu a filial que estava gerenciando, sendo, para isso, fundamental o dote recebido por sua mulher. A passagem de empregado a proprietário, portanto, foi facilitada pelo bom casamento realizado com Selma Wagner.
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Trecho do Anuário: "Notícias de Vicente Só", Edição nº 68 (2021) - Casa de Brusque / UNIFEBE
No ano de 1892, o comerciante local Carlos Cristiano Renaux fundou a primeira indústria têxtil de Santa Catarina. Os primeiros teares foram feitos pelos imigrantes poloneses, conhecedores da arte de fiar, e foram instalados no interior do armazém de Carlos Renaux, na rua principal (onde está a atual Praça Barão von Schneeburg), que servia de depósito para as mercadorias comercializadas na Vila. Com cerca de oito teares, a produção teve início. Os tecidos de algodão eram produtos difíceis de encontrar e até então eram trazidos de fora da cidade. É importante lembrar que os colonos compravam os panos, mas as roupas eram costuradas em casa pelas mulheres da família ou encomendados a um alfaiate.
A Fábrica de Tecidos Carlos Renaux foi fundada no dia do aniversário de 30 anos do seu proprietário, 11 de março de 1892. Tempos depois, foi transferida para novas instalações na Rua dos Pomeranos (atual avenida 1º de maio), assim chamada em homenagem aos imigrantes pomeranos que ali se instalaram. O local foi escolhido por possuir um ribeirão que poderia gerar a energia necessária para a fábrica. Ali, em novas instalações, a empresa prosperou.
O Cônsul contribuiu com diversas doações para o município de Brusque mantendo-se sempre no poder, direta ou indiretamente. Juntando seu dinheiro acumulado com o dote recebido de sua esposa e também a empréstimos, Renaux funda em 1892 a Fábrica de Tecidos Carlos Renaux. Esta fábrica com as outras que a sucederam, modificam o panorama de Brusque: o trabalho industrial ganha cada vez mais força e importância. Na atuação de Renaux como superintendente da cidade é realizada a construção da ponte Vidal Ramos em 1905, que ligava, pela primeira vez, o centro de Brusque ao outro lado do rio e também a sua fábrica que ficava onde hoje é a rua Primeiro de Maio. Sempre que possível tentava agradar a todos em troca do desenvolvimento da cidade e apoio popular para si e sua família.
Por exemplo, ao mesmo tempo que investe na ampliação do
Hospital Arquidiocesano de Azambuja, consegue a doação do terreno da comunidade
Luterana e financia a construção de uma maternidade, ambas as instituições
homenageiam Renaux em seus nomes. Faz doação de metade do valor da construção
da sede social do Sport Club Brusquense, que vai homenageá-lo trocando o seu
nome para Clube Atlético Carlos Renaux e repete o ato ao clube Paysandú, que
nomeia seu estádio como Coronel Carlos Renaux. Contribui com o Colégio São Luiz
e também com o Grupo Escolar Alberto Torres, que posteriormente homenageia
Renaux em seu nome. Entre diversas outras obras está a criação da Sociedade
Cultural e Beneficente “Cônsul Carlos Renaux”. Ela tinha como objetivo amparar
viúvas, fornecer bolsas de estudo, contribuir com artistas e inventores, além
de ajudar instituições esportivas e religiosas. Um dos projetos que recebe o
apoio da sociedade é o da primeira geladeira fabricada no Brasil.
A primeira geladeira do Brasil foi fabricada em Brusque. Ela funcionava a querosene, o que revolucionou a vida de muitas pessoas que antes precisavam resfriar seus alimentos e bebidas na água do poço, em porões, buracos na terra, ou mesmo em geladeiras sem motor, que mantinham a temperatura baixa através de uma barra de gelo colocada em seu interior. A obra prima, no Brasil, foi criação de Guilherme Holderegger e Rudolf Stutzer, com o auxílio financeiro de Cônsul Carlos Renaux. Os dois possuiam uma oficina na Rua Tiradentes, onde era concertado de tudo e contornava as dificuldades de importação de matéria-prima impostas pela guerra, fabricando e consertando bicicletas, anzóis e outros artigos..
Em 1947, Holderegger e Stutzer depararam-se com uma geladeira movida a querosene importada, levada por um cliente para conserto. Desmontaram todas as peças e montaram outra geladeira adaptando o modelo de funcionamento. O resultado foi a fabricação de “uma geladeira a querosene totalmente artesanal” que proporcionou encomendas de outras 31 geladeiras a querosene de 1947 a 1950. Os inventores associaram-se ao comerciante Wittich Freitag e inauguraram em 1950 a fabrica de Joinville com o nome Indústria e Refrigeração Consul. Em um ano a Consul já embarcava refrigeradores diretamente da fábrica de Joinville para o Rio de Janeiro.
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