HISTÓRIA REGIONAL - Chegada dos Belgas na Região - Revista CARTUM INTERATIVA nº 173.

 

BELGAS EM ILHOTA




A Bélgica é famosa pelas suas cervejas, mexilhões, batatas fritas (Frittes), waffles, chocolates, rendas de bilros e pelas suas histórias em quadrinhos (Smurfs, Tintin, etc.)!

Em 6 de julho de 1844, sem conseguir ganhar as terras que haviam sido prometidas pela província catarinense, Charles Van Lede e os irmãos Lebon, adquirem mais de 5000 hectares de terra na região de Ilhota.



Em 24 de novembro de 1844, no Rio Itajaí-Açu, bem em frente aonde hoje se encontra a Igreja Matriz São Pio X, atracaram em uma pequena ilha os primeiros 90 colonos belgas (A pequena ilha desapareceu depois das grandes enchentes de 1880 e 1911). Algumas árvores foram derrubadas para que fosse construído um enorme barracão onde as famílias passaram os primeiros dias na nova terra.

O reconhecimento oficial da colônia belga catarinense ocorreu em 28 de julho de 1845 com a aprovação do projeto pela Câmara de Deputados. 

Em 30 de maio de 1846 Pierre Van Loo da cidade de Gant acumula um capital de 10.000 francos e contrata trabalhadores para em anexo a colônia de Van Lede introduzirem o cultivo de linho no Brasil.

 Van Lede retorna à Bélgica, encerrando as atividades da Companhia e deixando a colônia nas mãos de Philippe Fontaine. A vida da colônia floresceu graças ao trabalho dos imigrantes. Em 1874, os herdeiros de Van Lede reivindicaram a propriedade da terra. O cônsul da Bélgica no Desterro contribuiu para o conflito ao conseguir uma procuração de Van Lede para negociar o terreno. Não bastasse, em 1889 o Hospital de Bruges (Bélgica) também reivindicou as terras da colônia recebidas por testamento de Van Lede. Quando o promotor Van Dal começou a fazer o levantamento do terreno, mais de 80 residentes de Ilhota e arredores, todos armados, se revoltaram, confiscaram as ferramentas dos agrimensores e expulsaram Van Dal de Ilhota. O Ministério belga então ficou a favor dos colonos e o assunto foi encerrado.

A colonização do Braço do Baú, na margem esquerda, começou em 1886 com as famílias Nunes, Reichert e Zabel, segundo escreve a escritora Edltrauld Zimmermann Fonseca, no livro “Localidade do Braço do Baú”.  

 HISTÓRIA DE ILHOTA

Os mais antigos registros de colonização de Ilhota (SC) datam de 31 de março de 1842, quando iniciaram uma viagem de reconhecimento dos rios Itajaí - Açu e Itajaí Mirim, 02 belgas, o engenheiro e pesquisador Charles Maximiliano Luiz Van Lede, Joseph Philippe Fontaine, o geólogo francês Guilherme Bouliech, e como guia o escrivão policial José Alves de Almeida.

Para entender qual a razão e o que se passou na Colônia Belga em Santa Catarina, é preciso contextualizar os cenários econômico e social da segunda metade do século XIX. A Europa vivia uma grande crise econômica em função da Revolução Industrial que provocou desemprego em massa, fome e o empobrecimento da população rural.




O Brasil, com pouco mais de 20 anos de independência, despontava no cenário pela abundância de terras férteis e riquezas em minérios, principalmente carvão, ferro e ouro. No entanto, a mão de obra escrava havia se tornado cara e escassa em função do movimento abolicionista e da proibição do seu tráfico a partir de 1845. A solução era importar trabalhadores da Europa. As fazendas de café de São Paulo e de outros estados principalmente no Sudeste do país passaram a atrair a mão de obra europeia em troca do sonho dos agricultores cultivarem em seu próprio pedaço de terra. O governo brasileiro, por sua vez, tinha interesse de povoar o Sul que estava sendo alvo de disputas e separações, com o que aconteceu em 1825, quando Uruguai se tornou uma nação independente.

INCENTIVO

Depois da implantação da política de defesa e ocupação contra a invasão do seu litoral e Sul, o governo brasileiro passou a incentivar a formação de núcleos colonizadores. Em Santa Catarina, embora tardia, várias regiões passaram a receber imigrantes: São Pedro de Alcântara, Vale do Rio Tijucas, Vale do Itajaí e as margens do rio Itajaí-Mirim. A região Sul era o alvo principal das empresas colonizadoras por causa das terras serem inoculadas, o clima semelhante ao europeu e a possibilidade de desenvolver outras culturas em substituição a cana-de-açúcar em franca decadência no Brasil.

Na região que mais tarde viria a ser ocupada pelos belgas, havia um pequeno povoado, com pouco mais de 1.100 habitantes, fundado por volta de 1820. As terras eram praticamente todas de posse do Coronel Agostinho Alves Ramos. Além destes habitantes, havia muitos índios, ou bugres como eram conhecidos, nas matas. Os índios não tinham local fixo. Na medida em que os imigrantes foram chegando e se estabelecendo nas colônias, os silvícolas foram sendo expulsos para o interior e, por fim, dizimados pelos caçadores.

UM BELGA EM TERRAS TUPINIQUINS

Personagem central da colonização belga em Santa Catarina, Charles Maximilien Louis van Lede (Bruges, 20/05/1801 – Bruxelas, 19/07/1875), para alguns, é vilão, para outros herói. Historiadores e pesquisadores ainda procuram por essa resposta.

O que todos têm certeza é que Van Lede foi um empreendedor com espírito aventureiro. “Cada homem é filho do seu tempo”, afirma a historiadora Elaine Cristina de Souza. Ela lembra a importância de Van Lede para o desenvolvimento do Vale. “Foi ele (Van Lede) que abriu as portas para a colonização e mapeou o Vale. O Dr. Blumenau só chegaria à região oito anos depois”. Nascido em 1801, na região de Bruges, Van Lede estudou em Paris, cumpriu serviço militar na Espanha, como um soldado mercenário que rebelou-se contra a tirania absoluta do rei Fernando VII. Em 1830, com a independência da Bélgica, retornou ao país para ser recrutado como oficial de engenharia. Enviado em missão militar ao México, Van Lede viajou as Américas como técnico em minas e tesouros ocultos. Esteve na Argentina e depois no Chile, onde trabalhou para o governo daquele país como engenheiro de construção de pontes, estradas e portos.



Brasão belga


Em 1842, já a serviço da Societé Commercial de Bruges e fundador da Compagine belge-brésilienne de Colonisation, Van Lede desembarcou no Brasil. A sua missão era avaliar o solo e as florestas catarinenses, para a exploração de ferro, carvão e outros minérios. O belga foi o primeiro a realizar uma viagem de cunho científico à parte navegável do Itajaí-Açu. Durante a navegação Van Lede produziu o diário "Reconnaissance de l'Itajahy-Grande" onde ele descreve com exatidão os locais onde passava. Partiram de Itajaí no dia 31 de março de 1842 e viajaram até a altura de Blumenau. Na viagem, alimentou a ideia de formar um grande projeto colonizador. Já no dia 12 de abril de 1842, escreveu uma carta à Comissão de Estatística da Província de Santa Catarina reivindicando terras. Quatro dias depois recebeu o parecer positivo com qual retornou par a capital do Brasil. Em 10 de agosto do mesmo ano, o Ministro e Secretário do Estado dos Negócios do Império, o senhor Candido José de Araújo redigiu um contrato colonial que foi rubricado pelo imperador. Ao retornar na Bélgica enfrentou oposição por não haver concordância plena do acordo firmado com adversidade do Cônsul Geral do Brasil na Bélgica. No ano de 1844, Van Lede retornou para o Brasil pressionando o governo para efetuar a concessão. Mesmo exigindo uma indenização não teve seus pedidos atendidos.

Van Lede Mapa Rio Itajahi-Mirim

"Mappa chorographica da provincia de Stª. Catarina, parte da Pa. de São Paulo e da Pa. de Rio Grande do Sul e parte da república do Paraguay", autor: Lede, Charles van (Charles Maximilien Louis van), 1801-1875 - Fontehttp://objdigital.bn.br/objdigital2/... 

Carlos Ficker

Após uma expedição entre os rios Itajaí-mirim e Itajaí-açu que levou Van Lede até a região do ribeirão Itoupava optam por estabelecer colônia na região de Ilhota "uma pequena ilha no rio". O solo era propício para a agricultura e havia a possibilidade de exploração de minérios.

VAN LEDE COMPRA TERRAS

Após adaptações ao projeto e com dificuldades de ganhar terras da província catarinense, ele não teve o seu contrato ratificado pelo governo brasileiro, que Van Lede atribuiu a negativa do De Jaeger, chargée d'affaires da Bélgica no Rio de Janeiros, Charles Van Lede e - segundo algumas fontes - os irmãos Lebon, adquiriram em 21 de novembro de 1844 uma área de 1.157 ha. de Dona Rita Luisa Aranha, em 2 de janeiro de 1845 compraram duas terras do tenente coronel J. Henrique Flores uma área de 4.012 ha. e outra de 2.146 ha totalizando 6.158 ha, e em 6 de julho de 1846 (e não 1844 como menciona o livro de Maes) uma área de 95 ha. do Cura Padre Francisco Rodrigues, no local chamado Prainha. As datas mencionadas são dos atos inscritos no cartório do Sr. Lacé em Desterro, SC. Algumas compras eram provavelmente feitas antes de agosto de 1844, porque nesse mês os primeiros colonos já embarcaram rumo ao Brasil. Van Lede tinha pressa do adquirir terras porque já em 30 de abril de 1844, 18 pais de famílias belgas assinaram um contrato com Van Lede para sua emigração a Santa Catarina. A razão dessa pressa é desconhecida porque ainda em 8 de março de 1844, o Conselho de Administração da Compagnie Belge-Brésilienne de Colonisation decidiu adiar a publicação em flamenga de uma apresentação do projeto de emigração com razão de não poder despachar colonos antes da instalação da administração no local ou pelo menos antes da confirmação da concessão.

A CHEGADA DOS PRIMEIROS IMIGRANTES BELGAS EM 1844

Em 24 de agosto de 1844, mais de cem imigrantes belgas partiram do Porto de Oostende com contrato firmado para cultivar nas terras da futura colônia a 3 francos por dia de serviço. Para ser exato, os imigrantes embarcaram em Bruges no barco Jean Van Eijck, de onde foram até Oostende esperando bons ventos par começar a viagem. No site http://coloniabelga.blogspot.com.br/... pode ser encontrada a cópia da lista de embarque dos imigrantes belgas à bordo do bridge Jan Van Eyck. Não descobrimos onde foi guardado a original desta lista. Ela não dá o numero exato de quantos colonos embarcaram. Lá constam os nomes dos solteiros e dos chefes (masculinos) de família. Descobrimos um outro documento "État nominatif des colons embarqués à Bruges, à bord du Brick Belge Jean Van Eijck, en destination pour la Province de Ste Catherine du Brésil" guardado no Arquivo Municipal da cidade de Bruges. Ela contem 114 nomes de indíviduos e no fim da lista a observação que François Spiessens, por causa de doença, não embarcou. Há grafias diferentes nos nomes e sobrenomes dos emigrantes entre as duas listas mencionadas.

Etat nominatif - header

Etat nominatif - footer

Talvez nunca saibamos o número exato de "colonos" que deixaram Oostende em 1844.

Segundo o jornal "Diário do Rio de Janeiro" de 2.11.1844, chegaram no dia 31 de outubro de 1844 no porto do Rio de Janeiro só 109 colonos. Alguns faleceram durante a viagem. No porto já estava os esperando Charles van Lede quem chegou no RJ, vindo de SC, em 25 de outubro de 1844.

O mesmo barco, Jan Van Eijck, saiu no dia 9 de novembro de 1844 do Rio de Janeiro com destinação Santa Catarina. Segundo Ficker, dois operários mecânicos desertaram do navio, empregando-se nos estaleiros navais na cidade de Rio. 

Assim chegaram no dia 17 de novembro de 1844 em Desterro (atual Florianópolis) em Santa Catarina, 107 colonos que foram recebidos pelo Consul da Bélgica, Sr. Charles Sheridan.

Diário de Pernambuco de 05 de fevereiro de 1845 menciona um ofício de 22 de novembro de 1844 do presidente da Província de Santa Catarina:

O bergantim ainda se acha no porto desta capital por falta de vento próprio para a viagem de Itajahy, e os colonos, que teem desembarcado, parecem-me gente de boa escolha, porque se teem comportando honesta, e sisudamente.

Mas logo depois da chegada em Desterro, começaram as divergências entre Van Lede e Louis Christia[e]n[s], de Gent, que, não se conformando com o projeto de cultivar terras que não fossem de sua propriedade, separou-se de Van Lede com mais 16 imigrantes, entre estes um negociante abastado de nome C. Van der Heyden. Este grupo estabeleceu-se em terras adquiridas no hoje município de São José. Seis meses depois fracassaria a tentativa. Aconteceu uma procura dos colonos por lugares próximos, tendo alguns se estabelecido na colônia alemã de São Pedro de Alcântara ; outros em Passa Vinte e no Desterro.

"Sahindo de Ostende em Agosto de 1844 com a intenção de formar huma empreza commercial na Provincia de Santa Catharina, e confiando na convenção feita entre o Ministerio Brazileiro e Mr Le Chevalier Van Lede,... e aqui chegando soubemos, que o contracto não havia ainda sido approvado pela Assemblea Geral Legislativa. Mr Van Lede comprou humas terras." relata Gustave Lebon.

Relato de 1850, do Ministério dos Negócios Estrangeiros ao presidente da província do Rio de Janeiro.

Segundo Ch. Maroy, autor do artigo "Sainte-Catherine du Brésil, Etablissement belge" publicado no "Bulletin d'études et d'informations de l'Ecole supérieure de commerce St-Ignace. Anvers, avril 1932, o colono Charles De Gandt, junto com 11 compatriotas, também abandonou Van Lede e comprou nos arreadores uma fazenda.

Dessa forma, Van Lede não conseguiria cumprir a exigência contratual de trazer 100 imigrantes. Apenas 90 colonos belgas foram transportados, em iate costeiro, até uma pequena ilha, que, se hoje existisse, ficaria no meio do rio Itajaí - Açu exatamente defronte à igreja Matriz São Pio X. A ilha que originou o nome da cidade desapareceu depois da elevação do nível do rio, causando por duas grandes enchentes, em 1880 e 1911.

Em 27 de novembro de 1844 foi fundada a Colônia Belga. Algumas árvores foram derrubadas para que fosse construído um enorme barracão onde as famílias passaram os primeiros dias na nova terra. Charles Van Lede e o grupo de colonos, iniciaram a construção das primeiras 16 casas de madeira que deram origem a aldeia de Ilhota.

Van Lede permaneceu no Brasil pouco tempo. Retornou para Bélgica em maio de 1845, deixando a colônia sob a direção de Joseph Philippe Fontaine, e nunca mais retornou. Ele faleceu em 1875, deixando suas terras no Brasil como doação ao Commission des Hospices Civils de Bruges.


OS PRIMEIROS IMIGRANTES

Philipe Fontaine, 43 anos (diretor da Colônia) - Jean Nicolas Denis Isler, 46 anos (sub diretor) - Pierre Plettincks, 43 anos (médico) - Emmeric Crebeels, 48 anos (alfaiate) - Pierre Deprez, 42 anos (particular) - Leonard Vandergucht, 48 anos (agricultor) - François Walthez, 48 anos (particular) - François Hollenvoet, 36 anos (particular) - Reine de Vrekc, 36 anos (dona de casa) - Jean Van Heicke, 46 anos (agricultor) - Louis Christiaens, 28 anos (negociante) - Pierre Veighe, 36 anos (jardineiro) - Charles de Waele, 37 anos (ourives) - François de Smedt, 40 anos (agricultor) - François Beyts, 44 anos (agricultor) - Maxem Milcamps, 20 anos (particular) - Louis Maebe, 27 anos (carpinteiro) - Hypolite V. Heyde, 23 anos (capitalista) - Henri Plancke, 42 anos (agricultor) - Leonard Degand, 52 anos (agricultor) - Eugene Maes, 43 anos (agricultor) - Ignace de Sanders, 42 anos (agricultor) - Gregoire Himpens, 40 anos (agricultor) - Henri Devreker, 29 anos (carpinteiro) - Charles Castelein, 31 anos (agricultor) - Louis Van der Busche, 32 anos (arador) - Jean Baptiste Buelens, 29 anos (pedreiro) - Pierre Heytens, 38 anos (agricultor) - Gustave Lebon, 26 anos (particular) - Pierre Brackeveld, 42 anos (agricultor) - Henri Wismer,40 anos (agricultor) - Ange Gevaet, 47 anos (agricultor) - E. François Milcamp, 22 anos (particular) - Jean Van de Vrecken, 30 anos (agricultor) - Jean Baptiste Vilain, 31 anos - (agricultor) - Edouard de Smet, 22 anos (trabalhador) - Bernard Lecluyse, 21 anos (barbeiro) - Judoc Mussche, 23 anos (carpinteiro) - Michel Coucke, 21 anos (agricultor) - Romain Busso, 17 anos (estudante) - Martin Verlinden, 30 anos (trabalhador) - Auguste Lebon, 22 anos (particular) - Charles Devleeschower, 36 anos (serrador de madeira) - Gerard De Rycke, 49 anos (jardineiro) - Jean B. Van Hamme, 39 anos (caçador) - Benoit De Ny’s, 23 anos (particular) - Charles de Gandt, 56 anos (proprirtário) - Ange Gillis, 18 anos (trabalhador) - Ange de Neve, 31 anos (trabalhador) - Bernard Van Rie, 47 anos (trabalhador) - Bruno Claeys, 32 anos (trabalhador) - Charles Opstaele, 22 anos (agricultor) - Honoré Ego, 30 anos (agricultor) - Philippe Deprez, 29 anos (agricultor) - Leonard Maes, 31 anos (agricultor) - Charles Schloppal, 22 anos (vive de rendas) - Pierre Sijs, 17 anos (carpinteiro) - Clement Vanysere, 21 anos (agricultor) - François Meuwens, 26 anos (fundidor de ouro) - Joseph Loens, 21 anos (ourives) - Emile De Gandt, 19 anos (particular)

Fonte: http://www.jornalmetas.com.br/...

Em fevereiro de 1845, Van Lede viajou para o Rio de Janeiro e, em maio do mesmo ano, embarcou de volta para a Bélgica, deixando a colônia aos cuidados de Philippe Fontaine. Em 28 de julho de 1845, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei de criação da colônia.

AS DIFICULDADES

As dificuldades dos colonos estão além das simples suposições da derrubada da mata virgem e do estabelecimento de uma plantação para o próprio sustento. Suas dificuldades ficam muitas vezes expressas nas suas relações com os demais envolvidos com a colonização.

Pedro Germano Cervi no artigo "A diversidade da colonização do Vale do Itajaí 1835-1867" p. 16 - Revista Santa Catarina em História - Florianópolis - UFSC – Brasil ISSN 1984- 3968, v.1, n.2, 2009

No entanto, o clima já era ruim e as desavenças entre a chefia e os trabalhadores só cresceram.

"No mez de Novembro de 1845 os colonos revoltarão-se, e de modo algum quizerão continuar a observa seus contracto. As justiças de Santa Catharina os condemnarão á dois annos de prisão, que preferirão soffrer á submetter-se ao engajamento." - Gustave Lebon.

Relato de 1850, do Ministério dos Negócios Estrangeiros ao presidente da província do Rio de Janeiro.


A CHEGADA DO SEGUNDO GRUPO DE EMIGRANTES BELGAS EM 1846

Segundo o jornal "Le Messager de Gand" de 24.05.1846, no dia 21 de maio de 1846, o brigue "l'Adèle" com capitão Cornelissen saiu do porto de Antuérpia rumou a Santa Catarina com carga e 52 emigrantes. Ao bordo era Pierre Van Loo da cidade de Gent acumulada de um capital de 10.000 francos, que contratou 16 trabalhadores rurais e agricultores. Estabeleceu-se com os seus colonos em anexo a colônia de Van Lede onde - segundo uma fonte - introduzam o cultivo de linho no Brasil.

NOMES DOS IMIGRANTES BELGAS

NAVIO ADÈLE - 30.05.1846

Gregoire Florimond, Kamer Anne e Jean, Van Daele Charles Louis e Ivo, Hostyn Felix e Luis, Praet François, Houttekees Charles, Neirinck Pierre, Ranwez Engilbert D., De Vreese Marie Christine, De Coninck Leo, esposa e 03 filhos e Paul Frederic.
Fonte: A cópia da lista de embarque dos imigrantes belgas encontra-se em http://coloniabelga.blogspot.com.br/....


A VIDA NA COLÔNIA BELGA

O cotidiano dos colonos belgas ficou marcado por muito trabalho, desconhecimento das muitas enchentes do rio, algumas dificuldades de adaptação e, também, uma série de conflitos. Aprenderam a pescar, caçar, derrubar árvores, construir casas, engenhos de fabricação de farinha, açúcar, e principalmente reivindicar seus direitos. De acordo com as historiadoras Ana Luiz Mette e Elaine Cristina de Souza, no livro Ilhota - Encanto dos Belgas no Vale do Grande Rio - as discórdias iam desde o descontentamento pelo pagamento maior pelos serviços desmatamento a colonos brasileiros do que aos belgas até escassez de mantimentos. Eram frequentes as rebeliões na colônia, por isso os belgas foram taxados de arruaceiros, brigões e malandros.

Gonçalves, neto de uma jovem belga, descreve as condições de vida dos imigrantes: “Se por um lado, viver na Europa estava difícil em virtude dos vários conflitos e a pobreza que assolava as famílias europeias, viver na cocanha brasileira, também não era tarefa fácil nas primeiras décadas de colonização, onde as condições climáticas, os animais selvagens e serpentes espalhavam-se por toda a região”.

Diante do ambiente hostil, Fontaine também decidiu retornar à Bélgica, deixando os imigrantes sem rumo. Antes de partir, levou - algumas fontes anotam destruiu - todos os documentos e ainda exigiu que os colonos assinassem um termo confirmando terem recebido as terras e toda a infraestrutura necessária para se estabelecerem. Nessa época, a colônia era formada por 63 pessoas. A direção da Colônia passou então para Gustave Lebon, que também teria desistido meses depois. A embaixada da Bélgica também negou ajuda.

 Ilhota planta da colonia belga

A partir de 1847 não foram introduzidos mais colonos. Em 1851 existiam na antiga Colônia Belga, Desterro, Passa Vinte e São Pedro de Alcântara, 136 pessoas de origem belga. Em 1861 haviam mais de 200 pessoas no lugar da ex-Colônia e em 1874, 22 famílias habitavam-na. Quase vinte e cinco anos depois, em 1889, 400 famílias povoavam a localidade, porém só a terça parte da população era de nacionalidade belga.

Ilhota: tempos e contratempos de uma colônia belga por Maria do Carmo Ramos Krieger Goulart

 

SOBRENOMES DOS IMIGRANTES BELGAS

JULHO E SETEMBRO 1847

As família de Ange Gevaert (lote D 6), Leon van der Gucht (3 filhos - lote D 7), Ignace (Ignaz) de Sanders (5 filhos - lote D 12), Leonard de Gand (3 filhos - lote 8), François de Smet (lote D 9), Gregorio Himpens (2 filhos - lote D 10), Charles Casteleyn (2 filhos - lote D 11), Charles Van Dale (lote D 5), J. B. Villain, F. Planke e De Coninck.

Os solteiros: Eugene Maes, Leonard Maes, Emmeric Grabeels, Engelbert Gevaert, Jean Van Heycke, Michael Conicke, Louis Busche, Louis Marbe, Charles Opstale, Gustave Lebon, J. B. Bulens, Ivo (J. ?) Van Dale, Speckart, E. Ranwez, Jean Verdueren (lote D 4), Louis Ostyn e Pierre Nerrinck.

Lote C, ocupado por Pierre Van Loo e seus colonos Leo De Coninck e família (lote 3 bis)

Lote B, explorada por Gustave Lebon como representante de Hypolite Van Heyden.

Lote A, explorada por Gustave Lebon em pessoa.

Fonte: Carlos Ficker, p. 27-28 (total 63 pessoas em setembro) e p. 37

O QUE PLANTARAM OS COLONOS BELGAS?

Uma carta de Van Lede publicada no Journal de Bruxelles de 31.08.1845 dá informações detalhadas sobre os avanços na colônia belga, a colheita já realizada de feijão e os próximos passos:

Recebi do senhor Fontaine, nosso diretor colonial, as melhores notícias sobre o andamento de nosso estabelecimento localizado no Itajaí-Grande. Todos os nossos colonos estão em suas terras; vinte e cinco hectares já estavam sendo cultivados em 15 de fevereiro e hoje [3 de junho de 1845] a primeira colheita voltou aos celeiros.

Transcrevo aqui que ele me escreve a esse respeito, sob a data de Desterro, 7 de abril de 1845

A saúde dos colonos é tão boa quanto se pode desejar. As picadas de borrachudo e essa espécie de sarna com a qual foram afetados desaparecem completamente. Eles geralmente estão felizes e trabalham muito duro desde a divisão dos campos. Dividi entre eles cerca de 500 braças lado a lado ao longo do rio, deixando espaço para as margens, bem como para a ampliação da sede.

Toda a parte desmatada é coberta com feijão, de uma ponta à outra. Na beira do rio e ao longo de toda a parte já desmatada, existe um caminho perfeitamente desobstruído, traçado de acordo com as indicações que me deste e unido como a zona de um jogo de boliche, tendo as suas pontes sobre todos os barrancos, bem como sobre o ribeirão que vai na direção das Flores.

Os colonos agora estão ocupados plantando batatas na mesma extensão de fachada com um novo domínio sobre a floresta virgem. Todas as linhas de divisão dos lotes seguem norte e sul e serão plantadas com algodão, café, laranja etc. A marcha do trabalho desperta a admiração dos brasileiros. Grande parte das terras a jusante de Flores, na margem esquerda, também está coberta de feijão e vou plantar uma quantidade considerável de cana-de-açúcar e construir o engenho ​​necessário para essa operação.

Assim que o solo estiver limpo de todas as raízes que ainda estão lá, começarei o linho e o índigo e em breve acho que poderei plantar o "nopal" para coletar a cochonilha. Acho que, enquanto escrevo isso para você, um pouco "d’Alpeste" deve ser semeado; esta semente é amplamente distribuída por toda a costa e chega aqui com grande custo de Gibraltar.

No próximo mês plantaremos tabaco. Já estamos trabalhando em uma estrada para entrar na floresta e preparar os lotes para novos assentados que porventura cheguem.

Th. Van Lede

(tradução - Marc Storms)

A estatística de 1850 da Colônia Itajaí-Grande traz também informações sobre os colonos belgas e o que plantaram. Observe que não há menção de plantação de algodão, café, linho, índigo, nem de tabaco.

11 produtores belgas são mencionados, junto com a sua produção:

  1. Henri Plancke: 3 barricas de açúcar, 25 alqueires de batatas, 20 alqueires de farinha e 200 alqueires de arroz
  2. Michel Coucke: 16 alqueires de batatas e 100 alqueires de arroz
  3. Charles Van Daele: 28 barricas de açúcar, 12 alqueires de batatas, 40 alqueires de farinha, 24 alqueires de feijão, 300 alqueires de arroz, 10 mãos de milho
  4. Charles Opstaele: 10 alqueires de batatas
  5. Louis Maebe: 6 barricas de açúcar, 30 alqueires de batatas, 62 alqueires de feijão, 300 alqueires de arroz e 14 mãos de milho
  6. Ignace de Sanders: 2 barricas de açúcar, 24 alqueires de batatas, 100 alqueires de arroz e 14 mãos de milho
  7. Charles Castelein: 10 barricas de açúcar, 12 alqueires de batatas, 80 alqueires de arroz, 43 mãos de milho
  8. Leonard Vandergucht:  8 alqueires de batatas e 2 mãos de milho
  9. Leonard Degand: 8 barricas de açúcar, 8 alqueires de batatas e 2 mãos de milho
  10. Gustave e Auguste Lebon: 92 barricas de açúcar e 1200 medidas de aguardente
  11. Leonard Maes: 40 alqueires de batatas, 400 alqueires de arroz e 16 mãos de milho.

Sabemos também que Charles Castelein, Louis Hostin, Louis Maebe e Leonard Vander Gucht tinham em 1850 um engenho de cana. A estatística ainda menciona o número de bois e vacas que cada família tinha.

O censo mostra que todos os colonos belgas, menos os irmãos Lebon, tinham plantação de batata. Uma questão ainda em aberto é se eles trouxeram as mudas da Bélgica. Outros produtos mencionados são a farinha de mandioca, o açúcar - claro de cana -, o arroz e o milho, todos desconhecidos na Bélgica na época da migração, por não ser de origem europeia ou não ser usados lá.

Quem ensinou os colonos belgas em como plantar e processar esses alimentos? Quem construiu os engenhos? A produção era provavelmente vendida pois é pouco provável que os belgas tomaram 1200 medidas de cachaça... Então, como foi feita a venda dos produtos? Para onde e para quem? Era monetizada ou um sistema de troca? As medidas mencionadas na estatística são também interessantes: barricas de açúcar, mãos de milho ou medidas de aguardente.

Cruzeiro do Sul 18600624Uma notícia no jornal O Cruzeiro do Sul de 24.06.1860 nós da algumas luzes. A policia de Itajaí informa a remessa pelo iate Guilhermina de 3 barricas de mudas de cana vindas das ilhas da Reunião e Mauricias - localizado a leste de Madagáscar. Uma era destinada "para o diretor da colônia Blumenau, outra a José Henriques Flores, e a terceira para ser dividida pelos colonos belgas que mais cultivam a cana e fabricam açúcar". O que confirma que a plantação de cana de açúcar na colônia belga era um negócio sério e que os belgas tinham contatos com as colônias vizinhas.

A vida na colônia só prosperou graças ao trabalho dos imigrantes. Relata o visitante belga, Lambert Aimé Picard, em carta à sua mãe, datada o 1° de julho de 1855, enviada de Desterro:

Les colons belges qui sont venus ici sans aucun avoir, sont aujourd'hui dans l'aisance et possesseurs chacun de quelques milliers de francs; ils ont gagné cela par la culture. Les entrepreneurs qui étaient venus avec des capitaux, au contraire, sont aujourd'hui, avec rien.

em livre tradução: Os colonos belgas que vieram para cá sem quaisquer bens, agora estão bem de vida e cada um possui alguns milhares de francos; eles ganharam através da cultura. Os empresários que vieram com capital, ao contrário, hoje estão sem nada.

REINVINDICAÇÃO DAS TERRAS

Em 1875, um fato novo tirou o sossego dos moradores. Van Lede faleceu neste ano, deixando suas terras no Brasil como doação à "Commissie van Burgerlijke Godshuizen" (CBG, uma instituição civil que cuidou dos pobres) da sua cidade natal, Bruges. E esses herdeiros reivindicaram a posse das terras. O Cônsul da Bélgica no Desterro, Henry Schutel, também colaborou para o conflito ao valer-se de uma procuração de Van Lede para negociar alguns terrenos.

Em 1889 o CBG requereu parte das terras da colônia deixadas por Van Lede em testamento e contou com os serviços do antigo colono, o belga Charles Van Daele, Quando Van Daele iniciou o trabalhos de medição das terras, mais de 80 moradores de Ilhota e das vizinhanças, todos armados, o agrediram, apoderaram-se de seus instrumentos e o expulsaram de Ilhota. Depois um longo processo, e por falta dos contratos do lado de Van Lede com os primeiros colonos, o Ministério da Bélgica pronunciou-se a favor dos colonos e a pendência foi encerrada.

Mesmo assim, em 1906 foi vendido o terreno "Ilhota Flores" de 4.012,18 ha, situado parcial em Itajahí e parcial em Blumenau, ao Carl Richbieter de Blumenau pelo preço de 25.000 francos. O ato foi registrado no cartório do Sr. Fides Deeke, Blumenau, no dia 12 de março de 1906.

O QUE RESTA AINDA DA COLÔNIA BELGA EM SANTA CATARINA?

Ilhota Familia belga Maes - De Coninck

Foto da familia belga Felício Ricardo Maes e Otilia De Coninck (sentados) e seus filhos
Felício era filho de Ricardo Eugênio Maes (nascido na Bélgica e emigrado ainda menino com seu pai Eugen Maes) e Eugênia Brackeveld Maes.
Otília era filha de Constant De Coninck (nascido na Bélgica e emigrada ainda menina com seu pai Leo De Coninck) e Maria Machado Coninck.

Fonte: http://coloniabelga.blogspot.com.br

Muito pouco, escreve Patrick Maselis. "Philippe Fontaine, em 1847, queimou todos os documentos relacionados com a colônia. Depois disso, aquela área sofreu ainda várias cheias, entre outras, a de 1911. A Igreja construída em 1845 por Van Lede superou tudo isso. Infelizmente, por volta de 1925, ardeu completamente. Restam poucos vestígios visíveis, mas nesta zona do Brasil os belgas pertencem ao passado mas não ao olvido. As peripécias de Charles Van Lede e da Compagnie belge-brésilienne de colonisation ainda são conhecidos aqui e ali. A frase de abertura do folheto publicitário da pequena cidade de Ilhota faz referência às suas raízes Belgas. Alguns nomes de ruas têm nomes belgas e quis-se mesmo criar um museu belga nesse território. Também aqui os vestígios mais importantes dos colonizadores belgas são os descendentes! Com algum orgulho usam os seus apelidos tipicamente belgas, como Maes, De Gand ou Catellain. Desta forma, permanece uma lembrança difícil de apagar, da aventura belgo-brasileira do séc. XIX, que é automaticamente transmitida, como um bem, de geração em geração."

Ilhota Brasão com menção belga

Com objetivo de manter viva a tradição e a cultura de suas famílias, descendentes de colonizadores belgas fundam no dia 28 de julho de 2019 uma associação em Ilhota, a "Ilha Belga".

Em 30 de julho de 2020 a Prefeitura de Ilhota inaugurou a requalificação do Casarão Belga, espaço esse destinado a biblioteca pública e acervo histórico do município. O prédio teve sua primeira inauguração no dia 10 de maio de 1932, sendo sede do poder executivo e legislativo do município. Entre os anos de 1982 a 1987 foi construída a nova sede da prefeitura municipal de Ilhota, e a construção abrigou nos anos seguintes o corpo de bombeiro do município, o conselho tutelar, casa da cidadania entre outras repartições públicas.

Casarão Belga Ilhota

(foto: Prefeitura de Ilhota-SC)

E precisamos acrescentar que o primeiro prefeito de Ilhota, José Koehler, era descendente belga. A mãe dele era Coninck, descendente do imigrante Constantinus De Coninck. O
José Koehler casou-se com Valéria Maes, filha de descendente belga Ricardo Paulino Maes, nome que dá o principal trecho do Centro de Ilhota. E o presidente e o vice-presidente da segunda legislatura de Ilhota eram também descendentes belgas: José Pedro Castellain e Antônio Castellain.


Pesquisa & texto: Marc Storms

Baseado em

  • http://marusasaki.blogspot.com.br/2012/...
  • http://coloniabelga.blogspot.com.br
  • Charles Van Lede e a colonização belga em S. Catarina / Carlos Ficker. - Blumenau, 1972.
  • Ilhota: tempos e contratempos de uma colônia belga / Maria do Carmo Ramos Krieger Goulart. Blumenau em Cadernos 1982 n° 5.
  • Colonização Flamenga em Santa Catarina - Ilhota / Paulo Rogério Maes. - 2005.
  • Movidos pela esperança: A história centenária de Ilhota / Viviane dos Santos e Elaine Cristina de Souza. - S&T Editores, 2006.
  • Dos Açores ao Zaire: Todas as colônias belgas nos seis continentes. O surgimento, a História, a comunicação / Patrick Maselis. - Roeselare: Roularta Books, 2005.

Fonte: https://www.ilhota.sc.gov.br/

https://www.cidadesdomeubrasil.com.br/sc/ilhota

http://www.belgianclub.com.br/pt-br/ilhota/col%C3%B4nia-belga-ilhota-em-santa-catarina

http://coloniabelga.blogspot.com/search?updated-max=2013-02-10T20:49:00-02:00&max-results=9

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