HISTÓRIA REGIONAL - Charles Van Lede - Revista CARTUM INTERATIVA nº 173
História resumida:
Personagem central da colonização belga em Ilhota - SC, Charles Maximilien Louis van Lede (Bruges, 20/05/1801 – Bruxelas, 19/07/1875), para alguns, é vilão, para outros herói. Historiadores divergem sobre o assunto.
O que todos têm certeza é que Van Lede foi um empreendedor com espírito aventureiro. “Cada homem é filho do seu tempo”, afirma a historiadora Elaine Cristina de Souza. Ela lembra a importância de Van Lede para o desenvolvimento do Vale. “Foi ele (Van Lede) que abriu as portas para a colonização e mapeou o Vale. O Dr. Blumenau só chegaria à região oito anos depois”.
Nascido em 1801, na região de
Bruges (Bélgica), Van Lede estudou em Paris, cumpriu serviço militar na Espanha, como um
soldado mercenário que rebelou-se contra a tirania absoluta do rei Fernando
VII. Em 1830, com a independência da
Bélgica, retornou ao país para ser recrutado como oficial de engenharia.
Enviado em missão militar ao México, Van Lede viajou as Américas como técnico
em minas e tesouros ocultos. Esteve na Argentina e depois no Chile, onde
trabalhou para o governo daquele país como engenheiro de construção de pontes,
estradas e portos.
Em 1842, Van Lede desembarcou no Brasil, com a missão de avaliar o solo e as florestas catarinenses, para a exploração de ferro, carvão e outros minérios.
O belga foi
o primeiro a realizar uma viagem de cunho científico à parte navegável do
Itajaí-Açu, na qual descreveu com exatidão em um diário os locais por onde
passava. Na viagem, alimentou a ideia do projeto colonizador, optando pela
região de Ilhota, "uma pequena ilha no rio". O solo era propício para
a agricultura e havia a possibilidade de exploração de minérios. Em agosto de 1844, 114
imigrantes belgas da região de Bruges, de origem flamenga, saíram do
porto de Oostende com a assinatura de um contrato de cultivo das terras da
futura colônia por 3 francos diários. Noventa deles chegaram a Ilhota.
Fonte:
http://www.belgianclub.com.br/pt-br/ilhota/col%C3%B4nia-belga-ilhota-em-santa-catarina
http://coloniabelga.blogspot.com/search?updated-max=2013-02-10T20:49:00-02:00&max-results=9
História aprofundada:
CHARLES VAN LEDE
Nascido em 1801 na cidade de Bruges, na Bélgica, Van Lede estudou em Paris na França -"les études préparatoires à l'Ecole polytechnique". Algumas fontes mencionam que ele era engenheiro de minas. Ele partiu em 1822 para a Espanha onde prestou serviço militar, como soldado mercenário e terminou por se rebelar contra a tirania absoluta do rei Fernando VII. Na sua certidão de óbito (disponível no arquivo da cidade de Bruges) consta que ele recebeu o "Commandeur de l'Ordre d'Isabelle la catholique".
Da Espanha partiu para o México onde trabalhou para uma empresa inglesa e era engenheiro chefe das minas de Thalpuxahua. Fez diversas viagens à América do Sul, entre outros países, no Chile foi promovido a diretor do departamento de Pontes e Vias. Pegou malária e teve que voltar para a Bélgica.
Em uma carta publicada no Journal de Bruxelles de 7 de junho de 1850, Van Lede explicou porque prestou serviço fora da Bélgica.
Sob o pretexto de ter estudado na França e não na escola militar de Delft na Holanda, eu foi impedido de entrar no corpo militar de engenheiros da Bélgica. [Para sua informação, no período de 1815 a 1830, a Bélgica fazia parte do Reino Unido dos Países Baixos.] Isso me forçou a seguir carreira no exterior. Com a permissão do governo holandês, entrei ao serviço da República do Chile, onde ascendi a diretor de obras públicas. Ao que tudo indica, para grande satisfação do governo chileno, pois após uma ausência de vinte anos, voltou a insistir que eu assumisse seu antigo cargo, que ainda estava vago.
Depois de setembro de 1830, todos os oficiais belgas que estivem no exterior foram solicitados a se disponibilizar para defender a nação recém-formada. Estranhamente, o diretor da guerra disse a mim que eu não poderia ser admitido porque não havia concluído a escola holandesa em Delft. De outro lado, outros arquitetos e engenheiros de pontes e estradas foram admitidos no corpo de engenheiros, embora eu fosse o único oficial superior “du génie”, com nacionalidade belga, que fiz campanha.
Em 1830, Van Lede tinha um papel inferior na luta para a independência da Bélgica. O livro "Les quatres journées de Bruxeles" par le Géneral Juan Van Halen (Bruxelas, 1831) contém nas paginas 139-158 o relatório de uma investigação feita no dia 23 de outubro de 1830 sobre o papel do general Van Halen em serviço do estado belga. O general mencionou que M. Van Lede "Officier du génie" viajou com ele para Bruges, onde foi hospedado na casa de Van Lede, e o dia seguinte à Oostende. No mesmo livro aparece também Joseph Denis Isler, negociante domiciliado em Antuérpia, que futuramente vai migrar para a colônia belga fundada por Van Lede em 1844 em Ilhota-SC. Seus amigos o oferecem um emprego no exercito belga que ele recusou.
Junto com o seu irmão Louis, cônsul de Brasil em Bruges, criou em 1836 a Societé Commercial de Bruges que se especializou no comércio com o Brasil de onde importaram café. A partir de 1840 a Sociéte tinha uma sede no Rio de Janeiro.
Em 1842, já a serviço da Societé Commercial de Bruges e fundador da Compagine belge-brésilienne de Colonisation, Van Lede desembarcou no Brasil. A sua missão era avaliar o solo e as florestas catarinenses, para a exploração de ferro, carvão e outros minérios. O belga foi o primeiro a realizar uma viagem de cunho científico à parte navegável do Itajaí-Açu.
Já no dia 12 de abril de 1842, escreveu uma carta à Comissão de Estatística da Província de Santa Catarina reivindicando terras. Quatro dias depois recebeu o parecer positivo com qual retornou para a capital do Brasil. Em 10 de agosto do mesmo ano, o Ministro e Secretário do Estado dos Negócios do Império, o senhor Candido José de Araújo redigiu um contrato colonial que foi rubricado pelo imperador.
Ao retornar para a Bélgica, enfrentou oposição por não haver concordância plena do acordo firmado com adversidade do Cônsul Geral do Brasil na Bélgica. No ano de 1844, Van Lede retornou para o Brasil pressionando o governo a efetuar tal concessão. Mesmo exigindo uma indenização não teve seus pedidos atendidos.
Mapa de Van Lede do Rio Itajahi-Mirim
VAN LEDE COMPRA TERRAS
Após dificuldades para ganhar terras da província catarinense, ele não teve o seu contrato ratificado pelo governo brasileiro. Van Lede atribuiu esta recusa a De Jaeger, chargée d'affaires da Bélgica no Rio de Janeiro.
Charles Van Lede e - segundo algumas fontes - os irmãos Lebon, adquiriram em 21 de novembro de 1844 uma área de 1.157 ha. de Dona Rita Luisa Aranha.
Em 2 de janeiro de 1845 compraram duas terras do tenente coronel J. Henrique Flores uma área de 4.012 ha. e outra de 2.146 ha totalizando 6.158 ha,
E, em 6 de julho de 1846 (e não 1844 como menciona o livro de Maes) uma área de 95 ha. do Padre Francisco Rodrigues, no local chamado Prainha. As datas mencionadas são dos atos inscritos no cartório do Sr. Lacé em Desterro, SC.
Algumas terras foram compradas provavelmente antes de agosto de 1844, porque nesse mês os primeiros colonos já embarcaram rumo ao Brasil. Van Lede tinha pressa em adquirir terras porque já em 30 de abril de 1844, 18 pais de famílias belgas assinaram um contrato com Van Lede para sua emigração a Santa Catarina. A razão dessa pressa se deve ao fato que ainda em 8 de março de 1844, o Conselho de Administração da Compagnie Belge-Brésilienne de Colonisation decidiu adiar a publicação de uma apresentação do projeto de emigração com razão de não poder despachar colonos antes da instalação da administração no local ou pelo menos antes da confirmação da concessão.
A CHEGADA DOS PRIMEIROS IMIGRANTES BELGAS EM 1844
Em 24 de agosto de 1844, mais de cem imigrantes belgas partiram do Porto de Oostende com contrato firmado para cultivar nas terras da futura colônia a 3 francos por dia de serviço. Para ser exato, os imigrantes embarcaram em Bruges no barco Jean Van Eijck, de onde foram até Oostende esperando bons ventos para começar a viagem.
Não descobrimos onde foi guardado a original desta lista. Ela não dá o numero exato de quantos colonos embarcaram. Lá constam os nomes dos solteiros e dos chefes (masculinos) de família. Descobrimos um outro documento "État nominatif des colons embarqués à Bruges, à bord du Brick Belge Jean Van Eijck, en destination pour la Province de Ste Catherine du Brésil" guardado no Arquivo Municipal da cidade de Bruges. Ele contem 114 nomes de indíviduos e no fim da lista a observação de que o imigrante François Spiessens não embarcou por causa de doença. Há grafias diferentes nos nomes e sobrenomes dos emigrantes entre as duas listas mencionadas. Talvez nunca saibamos o número exato de "colonos" que deixaram Oostende em 1844:
Segundo o jornal "Diário do Rio de Janeiro" de 2.11.1844, chegaram no dia 31 de outubro de 1844 no porto do Rio de Janeiro só 109 colonos. Alguns faleceram durante a viagem. No porto já estava os esperando Charles van Lede, que chegou no RJ, vindo de SC, em 25 de outubro de 1844.
Assim chegaram no dia 17 de novembro de 1844 em Desterro (atual Florianópolis) em Santa Catarina, 107 colonos que foram recebidos pelo Consul da Bélgica, Sr. Charles Sheridan.
Os problemas de Van Lede começaram antes da chegada ao Brasil. Segundo a reportagem, 7 belgas já haviam abandonado o grupo no Rio de Janeiro. E logo depois de chegar ao Desterro (atual Florianópolis, capital de Santa Catarina), começaram as divergências entre Van Lede e Louis Christian de Gante, que não concordou em cultivar essas terras que não possuía. De Gante separou-se de Van Lede com 16 imigrantes, entre eles, o rico comerciante C. Van der Heyden. Esse grupo se instalou em um terreno adquirido na cidade hoje conhecida como São José. Por esse motivo, Van Lede não cumpriu sua promessa de trazer 100 imigrantes a Ilhota.
Em 24 de novembro de 1844, os primeiros 90 colonos belgas desembarcaram na pequena ilha, que hoje ficaria no meio do rio Itajaí - Açu, exatamente em frente à igreja matriz de São Pio X. A ilha que deu nome à cidade desapareceu após a elevação do nível do rio, causada por duas enchentes em 1880 e 1911. Algumas árvores foram derrubadas para a construção de um enorme galpão onde as famílias passaram os primeiros dias no novo terreno. O reconhecimento oficial da colônia belga ocorreu em 28 de julho de 1845, quando o projeto foi aprovado pela Câmara dos Deputados.
Apesar desta situação, não desanimou e deu início à construção de 16 casas de madeira que deram origem a esta aldeia. Em fevereiro de 1845, Van Lede viajou para o Rio de Janeiro e, em maio, embarcou para a Bélgica, deixando a colônia nas mãos de Philippe Fontaine. No entanto, o clima não era dos melhores e as brigas entre patrões e trabalhadores só aumentaram.
Em 30 de maio de 1846 Pierre Van Loo de Ghent, reuniu um capital de 10.000 francos e contratou trabalhadores rurais e agricultores. Eles embarcam em Antuérpia no navio belga "l'Adèle" com destino ao Brasil e se instalam em um anexo da colônia de Van Lede onde Van Loo inicia o cultivo do linho.
Conflito, trabalho e dificuldades de adaptação marcaram o dia a dia da colônia. Aprenderam a pescar, a caçar, a derrubar árvores, a construir casas e galpões para conservar farinha e açúcar e, sobretudo, reivindicar seus direitos. Segundo as historiadoras Ana Luiz Mette e Elaine Cristina de Souza, em "Ilhota - Encanto dos Belgas no Vale do Grande Rio" - as disputas iam do descontentamento porque os colonos brasileiros recebiam melhores salários pelo desmatamento à falta de alimentos.
Devido às frequentes rebeliões, os belgas eram considerados lutadores e patifes. Gonçalves, neto de um jovem belga, descreveu as condições de vida dos imigrantes: “Se por um lado morar na Europa era difícil pelos muitos conflitos e pela pobreza que reinava nas famílias europeias, por outro lado morar no Brasil também não foi uma tarefa fácil, nos primeiros anos de colonização devido as condições climáticas, e animais silvestres e cobras que se espalharam pela região ”.
Diante desse clima hostil, Fontaine também voltou para a Bélgica, abandonando os imigrantes. Antes de partir, ele destruiu todos os documentos e exigiu que os assentados assinassem um documento atestando que receberam a terra e toda a infraestrutura necessária para se instalarem. Naquela época, a colônia contava com 63 pessoas. A gestão então foi para Gustave Lebon, que também se retirou alguns meses depois. A embaixada belga negou-lhes qualquer ajuda.
A vida da colônia floresceu graças ao trabalho dos imigrantes. Em 1874, os herdeiros de Van Lede reivindicaram a propriedade da terra. O cônsul da Bélgica no Desterro (Florianópolis), Henry Schutel, também contribuiu para o conflito ao conseguir uma procuração de Van Lede para negociar o terreno. Não bastasse, em 1889 o Hospital de Bruges também reivindicou as terras da colônia recebidas por testamento de Van Lede. Quando o promotor Van Dal começou a fazer o levantamento do terreno, mais de 80 residentes de Ilhota e arredores, todos armados, se revoltaram, confiscaram as ferramentas dos agrimensores e expulsaram Van Dal de Ilhota. O Ministério belga então ficou a favor dos colonos e o assunto foi encerrado.
Muito poucos documentos permaneceram, escreve Patrick Maselis. "Philippe Fontaine queimou todos eles em 1847. Depois, a colônia sofreu várias inundações, incluindo as de 1911. A igreja construída em 1845 por Van Lede resistiu a todas as intempéries, mas infelizmente queimou por volta de 1925. Poucos vestígios visíveis permaneceram.
Embora tenha sido um episódio distante, os belgas não foram esquecidos. As aventuras de Charles Van Lede e da Companhia Belgo-Brasileira de Colonização são lembradas. A primeira frase do folheto publicitário da pequena cidade de Ilhota refere-se às suas raízes belgas. Alguns nomes de ruas têm nomes belgas (Isidoro Maes, Ricardo Paulino Maes, Pedro Castellain) e existe o Espaço Cultural Edith Maes - anexo à prefeitura. Dona Edith foi a primeira descendente belga da cidade a compilar uma árvore genealógica. O documento pode ser encontrado no Espaço Cultural. Filha de Catharina Bittencourt Maes e Carlos Leandro Maes, Edith Maes nasceu em 1930. Foi professora em escolas isoladas no interior de Ilhota.
Mas os vestígios mais importantes são os descendentes. Com um certo orgulho, usam os seus nomes tipicamente belgas, como Maes, De Gand ou Catellain. Assim, resta uma memória difícil de apagar da aventura belgo-brasileira no século 19, que se transmite automaticamente, como um patrimônio de geração para geração.
A cidade de Itajaí homenagou Felicio Maes e Marcos Castellain nomeando ruas. As cores da Bandeira belga foram incluíadas no brasão de Ilhota. Em junho de 1958, Ilhota emancipou-se politicamente de Itajaí. O brasão de Ilhota menciona estes dados e também a data de chegada dos colonos belgas.
De vez em quando, organiza a Expo Belga - a terceira aconteceu em 2011. A festa tem como objetivo principal resgatar a cultura, a gastronomia e as tradições da Bélgica, país de onde vieram os colonizadores de Ilhota.
Além disso, alguns descendentes de belgas são empreendedores o suficiente para rastrear suas raízes e comunicar suas descobertas na Internet. O professor Paulo Rogério Maes, descendente direto da família Eugen Maes e de Leo De Coninck, mantém um blog sobre a colonização belga no sul do Brasil (Colonização belga no sul do Brasil) que contém, entre outras coisas, muitas fotos de descendentes como as de Maes e Castelein famílias. É autor de "A Colonização flamenga em Santa Catarina - Ilhota". Foi criado outro blog:
https://brockveld.wordpress.com
com o objetivo de reunir e divulgar informações sobre as origens da família Brockveld / Brackeveld. Lá é desenhada uma árvore genealógica.
Texto: Marc Storms
Tradução: Philippe Willemart
foto da Praça Charles Maximiliano Louis Van Lede.: por Lee Andrade
A praça central de Ilhota homenageia esse importante personagem da colonização belga com o nome Praça Charles Maximiliano Louis Van Lede.
Fonte:
https://www.ilhota.sc.gov.br/
http://www.belgianclub.com.br/pt-br/creator/van-lede-charles-maximilien-louis-1801-%E2%80%93-1875
http://www.belgianclub.com.br/pt-br/ilhota/col%C3%B4nia-belga-ilhota-em-santa-catarina
Comentários
Postar um comentário