"Bordando o Progresso" - Revista CARTUM INTERATIVA nº 160 - Livreto do BUETTNER.
Pesquisa: Robson Gallassini (in memorian)
e Edgar Ricardo von Buettner
Albertine Burow
Em 1900, a esposa de Eduardo von Buettner, Albertine Burow, e seu filho mais
velho Edgar fundam a fábrica de bordados finos, que se especializou em cortinas
e foi a primeira do Brasil no gênero.
Existem fontes que afirmam que a empresa foi fundada dois anos antes, em 1898. Porém, o filho de Edgar, Edgar Ricardo von Buettner, confirma a data de 1900 como a legítima.
Edgar von Buettner
Os produtos da fábrica de bordados possuíam qualidade
invejável, tanto que no ano de 1907 a empresa fornece amplo conjunto de
cortinas para a decoração do Palácio Monroe, no Rio de Janeiro, onde funcionou
o Congresso Pan Americano. Sobre isso o Jornal "Novidades" publicou a seguinte nota:
"... existe nesta vila uma importante
fábrica de cortinas, sanefas e rendas dos Srs. Buettner & Cª. É fácil
avaliar a delicadeza e o acabamento dos artefatos d’aquele estabelecimento
quando se disser que as cortinas do Palácio Monroe, onde no Rio funcionou o Congresso Pan-Americano,
foram todas encomendadas ao Srs. Buettner & Cª., e por eles fabricadas. A
execução d’essa primeira encomenda teve tão boa aceitação que aqueles Srs.
acabam de receber um novo pedido de cortinados de filó para as janelas do
Palácio do Catete. Tal fato é digno de menção, pois representa um justo apreço
á indústria nacional."
Os conhecimentos técnicos utilizados na produção dos
cortinados e sanefas foram obtidos fora do Brasil. Sobre esse fato encontramos
informações inusitadas, narradas pelo próprio Edgar a um jornalista no Rio de
Janeiro acerca de sua jornada à Alemanha. Uma história mesclada de sonhos,
dedicação e ‘espionagem industrial’, com
ares de mito, tendo em vista que a empreitada visava a aquisição dos conhecimentos
técnicos têxteis de ponta e, portanto, guardados com muito cuidado pelos
conhecedores da arte.
O relato que se fará na sequência foi retirado das
páginas do semanal Novidades, que por sua vez reprudoziu uma publicação
realizada no jornal O Paiz, de 24 de setembro de 1908. Na data de 18 de outubro,
com o título “Brusque na Exposição Nacional”, o semanal da cidade vizinha
publicava o relato, narrado pelo próprio Edgar von Buettner ao jornalista de ‘O
Paiz’, no Rio de Janeiro. O industrial brusquense para lá seguiu com o objetivo
de participar da Exposição Nacional.
Em 1907, concluídas as reformas, saneada a cidade o Distrito Federal já podia ser considerado uma cartão de apresentação da República e a sala de visitas do país. Então, no ano de 1908 foi realizada a Exposição Nacional, entregue a visitação pública a 11 de agosto desse ano, na Praia Vermelha.
“A exposião vai abrir-se. É a grande mostra do Brasil. Cada
Estado expõe riquezas (...) O Estrangeiro admirará, aproveitará (...) O
brasileiro descobrirá. E estou a ver o pasmo (...) dos cariocas diante do ouro,
das pedras, das madeiras, dos tecidos e dos aproveitamentos da naturesa
assombrosa, pelo homem vagaroso”, assim escrevia João do Rio acerca da
exposição relaizada na capital.
Vários brusquense participaram com seus produtos nessa
exposição, e Edgar von Buettner foi um deles. Representando a Buettner &
Cia recebeu o “Grande Prêmio” na categoria “Rendas, Bordados e Aplicações em
Filó”, como também levou medalha de prata na categoria “Produtos Fabris não
Especificados”. Além desses prêmios recebeu mais um na categoria “Produtos
Agrícolas”, a medalha de ouro, junto com Guilherme Krieger, Germano Benvenutti,
Antonio Dürchnabel, João Boos e João Kormann. Já na categoria “Fios e Tecidos
de Algodão”, Carlos Renaus levou ouro. Diversos outros brusquenses saíram
premiados da Exposição Nacional em nas mais variadas catergorias.
Traçamos as linhas acima acerca da Exposição Nacional de forma a mostrar
que os produtos da Buettner & Cia alcançaram, assim como outros da região,
um alto nível de qualidade. No caso de Edgar von Buettner, esse padrão está
ligado à história que se segue.
O sr. Buettner, tomada que foi a resolução de centrar a organização de uma fábrica de cortinados e sanefas, deixou o Estado de Santa Catarina, de onde é filho, em busca da Alemanha, país em que á extraordinariamente desenvolvida a interessante indústria. Ele sabia que lá chegando teria que dissimular as suas intenções para alcançar o que queria. Falando alemão como um germano filho das margens do Reno, pareceu-lhe relativamente fácil a empresa.
Empregar-se-ia como operário em uma fábrica e
observaria toda a sua organização, aprendendo o manejo do maquinismo e os
processos de elaboração e, uma vez conhecedor do assunto retornaria à pátria
para instalar no Brasil uma indústria até então totalmente desconhecida.
Acendia-lhe talvez a memória o exemplo de Pedro, o
Grande, da Rússia, que abandonando os cômodos de sua habitação régia, se
inscreveu, sob disfarce, no registro de proletariados dos arsenais dos países
adiantados do sul da Europa, para aprender os ofícios e as artes aplicadas que
havia de levar como um evangelho civilizador a barbarie dos seus moscovitas
àsperos.
Mas os obstáculos que o sr. Buettner havia de superar
eram muito mais árduos do que a princípio supôs. Não foi de dias nem de meses a
sua estada na Europa e a série de tentativas que teve de fazer durou quatro
longos anos. Verificou desde logo que os operários das fábricas, solidários com os patrões na
guarda do exclusivismo da indústria que os sustentava não lhe fornecião os
elementos de que necessitava.
Conseguiu por fim um lugar de operário em uma fábrica de chapéus de sol e sombrinhas rendadas. Era o ponto inicial de sua conquista. Travou então relações com um operário que, possuindo então uma pequena máquinna para confecção de tecidos rendados, trabalhava com ele em sua própria casa de onde remetia para o estabelecimento o que executava. Despediu-se então da fábrica e passou a trabalhar com esse operário. Mas descoberta ao cabo de (?) dias a sua nacionalidade, a fábrica fez ao operário a imposição de despedi-lo.
A origem do bordado à manivela ou Tambur é o bordado de ponto corrente, que se utilizava da agulha de crochê. A invenção da máquina de bordar à manivela possibilitou a elaboração de diferentes padrões de bordados sobre tecidos artesanais (feitos em casa). Em 1922 – segundo o livro de endereços de Plauen – existiam 192 ‘tambureiros’ (bordadores) dos quais apenas 06 (seis) eram mulheres! Esse era, portanto, uma atividade dominada pelos homens!
Passou depois para outra cidade, indo trabalhar em um companhia de outro pequeno fabricante de tais bordados. Estava a três dias no seu novo posto quando um jornal local lançou uma nota dizendo que se achava na cidade um cidadão brasileiro, perfeito conhecedor da língua e dos hábitos alemães, que procurava surpreender a organização técnica da indústria de rendas e cortinas para introduzi-la no Brasil. À vista do alarme o sr. Edgar Buettner foi novamente despedido.
Havia um cuidado extremo com a espionagem industrial praticada por estrangeiros, nas indústrias de bordado e tecelagem.
Comprou uma máquina de bordar à manivela na Bohêmia, na cidade de Gablonz, (então Áustria-Hungria), em 1897 (cidade não muito distante de Bunzlau, onde fez o seu aprendzado, durante três anos). Instalou em Plauen (Pólo de bordados, localizado na Prússia) para fazer como os outros operários, aviar encomendas das fábricas. Não houve porém, uma só que lhe as fizesse. Já se encontrava por essa época senhor de parte do segredo, isto é, já conhecia o manejo da máquina, faltava-lhe contudo um elemento essencial – modelos e desenhos.
Fez então convergirem todos os seus esforços e toda a sua indomável tenacidade para esse fim. As peripécias em que foi parte para a realização desse desideratum são porventura as mais originais e pitorescas dos seus quatro anos de infatigável reportagem industrial.
A consecução dos desenhos, sem os quais não poderia
fazer com a sua máquina, foi obrigado à custa de arranjos e astúcias,
verdadeiramente admiráveis. Para resumirmos, citaremos apenas o episódio final,
que decidiu da vitória de suas aspirações. Uma noite quatro desenhistas da
fábrica de cortinas e cortinados embriagavam-se pacificamente em torno a uma
mesa de taverna lobrega, o sr. Buettner tomou lugar em uma mesa ao lado e
começou a observá-los atentamente. Ebrios e cambaleantes separaram-se depois...
Assim termina a narrativa do jornal que anunciava a
continuação para a próxima edição, porém por algum motivo não foi publicada. Os
meios utilizados por Buettner para adquirir tais desenhos nos são
desconhecidos, mas foram de crucial importância para a fundação de sua empresa
na cidade de Brusque em 1900.
Pesquisa: Robson Gallassini (in memorian)
e Edgar Ricardo von Buettner
Edgar von Buettner, além de ter aprendido a bordar com as máquinas à manivela, também aprendeu a fabricar sombrinhas! As armações ele trouxe na sua bagagem. Depois de bordar a tule importada da Inglaterra, ele ensinou a sua mãe e sócia Albertina a montar esses panos em cada armação! Essas sobrinhas tiveram grande aceitação por parte das senhoras e senhoritas alemãs, que – além de protegerem as suas alvas peles do sol tropical – ainda podiam ostentar um acessório que lhes dava uma nota especial de glamour aos seus lindos vestidos. muitas vezes também feitos com panos bordados produzidos pela empresa E. R. v. Buettner & Cia.!
Numa etapa seguinte, a empresa passou a fabricar mosquiteiros bordados! O uso desse utensílio do lar era absolutamente necessário, pois Brusque os outros municípios do Vale do Itajaí estavam infestados pelo mosquito da malária! Também a aceitação deste produto era excelente, principalmente em Blumenau/SC.
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