Aldo Krieger (Manual do Brusquense)
Muito cedo iniciou-se na música, arte que muito além de uma
paixão, de uma profissão, tornar-se-ia uma missão de vida. Aos sete anos,
começou seu aprendizado de música com o professor alemão Reinhard Graupner, tocando
bandoneon. Aos oito anos já era escalado para acompanhar e substituir o
professor nas músicas que animavam o cinema mudo. Na adolescência, já dominava
a execução do bandoneon, violino, violão, clarinete e saxofone. No entanto, o
menino franzino que tocava sentado sobre uma caixa de sabão, fazia, com sua
música, a alegria dos espectadores do cinema, mas não agradava de todo sua mãe.
Como filho mais velho, Aldo devia servir de exemplo para os demais irmãos. Mal
tinha quatorze anos e já era convidado a tocar aqui e acolá, acompanhando conjuntos
em saraus e serenatas.
Como os demais irmãos, aprendeu com o pai o ofício da
alfaiataria, o qual exerceu ao lado da família até 1923. Foi balconista das
Lojas Renaux, entre outros empregos. Mas, por mais que se esforçasse com outras
ocupações, Aldo conservava em seu pensamento a música como um bem maior, o “dó-ré-mi”
acabava sempre por lhe falar mais alto.
Paralelamente às suas demais ocupações, Aldinho funda com
seus irmãos (Érico, Axel e Nilo) um conjunto para tocar no cinema mudo, o que
era um grande negócio, uma vez que naqueles tempos Brusque contava com três
salas de cinema (Cine Ideal, Cine Coliseu e Cine Real). Com um grupo de amigos cria o “Conjunto
Serenata” que, segundo o próprio Aldo “tinha o poder de encantar com venenosos
filtros, a fantasia das moças e o coração das damas”.
Em seus tempos de balconista das Lojas Renaux, não cessavam as reclamações do gerente por seus atrasos constantes, justificados por noitadas em que tocava na casa da própria família Renaux. Ao ser indagado, Aldinho não hesitou na resposta: “Ou bem faço música nas suas festas e chego tarde à loja, ou não toco e chego cedo!”
Nesse meio tempo, Aldinho se casa com Gertrudes Régis,
companheira fiel de toda uma vida ou “uma santa!”, como ele mesmo preferia
dizer, reconhecendo a dificuldade de conviver com um boêmio. Fato esse que não
era ignorado por ninguém.
Aldinho é incansável. Através de seu rádio de ondas curtas,
uma vez que em Brusque ainda não existia rádio e os gramofones ainda eram
artigo de luxo nas capitais, ouvia e transcrevia os maiores sucessos das rádios
do Rio de Janeiro e de Buenos Aires. A cada novo baile, novas músicas recém
transcritas: os maiores sucessos dos bailes das capitais.
Na década de 50, Aldo Krieger ingressa no curso de Canto
Orfeônico do Conservatório Nacional, no Rio de Janeiro, onde é aluno de
Villa-Lobos, na disciplina de composição, o qual reconhece seu talento como
arranjador e maestro.
Nessa disciplina, Aldo Krieger recebeu, junto com os demais
colegas de curso, a tarefa de compor uma música cuja partitura seguisse o
desenho da Serra dos Órgãos e do pico Dedo de Deus (Teresópolis – RJ). Villa-Lobos
pedia que os alunos desenhassem a dita serra num papel próprio e a partir dele,
num papel transparente, escrevessem a sua música, que deveria ser regida pelo
próprio compositor e cantada pelos demais colegas. Os trabalhos iam sendo
apresentados, um a um, e o célebre professor ia criando conceitos bem-humorados
para atribuir a cada aluno: “amigo do macaco”, “amigo do cachorro”, “amigo da
onça”. Todos seguidos pela assinatura do professor Villa-Lobos logo abaixo da
partitura.
Por último, quando chamado a apresentar sua obra, o
brusquense se desculpa, justificando-se por não ter cumprido a tarefa a risca:
ele havia feito as “sombras” das montanhas, transformando-as em contracanto.
O efeito do coro em duas vozes impressionou o mestre, que
festejou o resultado que ouvira. Lançando mão da partitura de Aldinho, concedeu
seu conceito: “amigo de todos nós”.
Criado em 5 de julho de 2002, um ano antes das comemorações
do Centenário de Nascimento de Aldo Krieger, o Instituto Aldo Krieger (IAK)
está estabelecido em sua sede própria, na casa do maestro brusquense. Trata-se
de uma sociedade de direito privado, sem fins lucrativos, que tem como
objetivos: executar, promover, fomentar e apoiar atividades de manutenção,
conservação e divulgação da sua obra e acervo, bem como promover, fomentar e
apoiar atividades culturais. O IAK foi declarado de Utilidade Pública (lei
3.029, de 2007), tem realizado atividades culturais regularmente e aberto à
visitação com agendamento prévio desde a sua fundação. O Museu localiza-se na
rua Paes Leme, 63, Centro, Brusque/SC, e fica aberto de Segunda a Sexta das 14h
às 18h. Para mais informações, consulte o site: www.iak.org.br .
Pesquisa: Robson Gallassinni (in memorian)
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