A HORTA DO OPA - Revista CARTUM nº 141
No Vale do Itajaí existe uma concepção muito comum, que diz
que em casa de alemão sempre tem jardim e horta, mesmo nas mais pobres. De
fato, Ao analisarmos historicamente a arquitetura de nossa região, e não apenas
a alemã, mas também a de famílias de diversas origens, encontramos nos
arredores das casas (espaço que se costuma chamar de “terreiro”), locais
reservados para a plantação de flores, ervas, verduras, legumes e árvores. Além
disto também não será difícil encontrar em várias moradias, cercados para a
criação de animais como galinhas e porcos. Esta organização do ambiente
residencial está ligada à história da colonização na região: boa parte dos imigrantes
do século XIX em Brusque eram agricultores na Europa e tinham como objetivo
poder trabalhar na terra de sua propriedade aqui no Brasil. Ao chegar, o que
era um objetivo se torna uma obrigação, uma questão de sobrevivência já que o
comércio neste período é muito escasso e caro. Não havia estrada ligando
Brusque ao litoral, e nem veículos velozes como os atuais para carregar
produtos vindos de outros lugares, restando a via fluvial.
Os colonos plantavam em seus terrenos “de tudo um pouco” e
com a criação de animais era possível produzir diversos gêneros de produtos
totalmente artesanais como: carne defumada, toucinho, banha de porco, queijo,
nata, manteiga, e o famoso mus ou schmier (lê-se chimía), que é a geleia ou compota
de frutas. Aquilo que sobrava era trocado entre os vizinhos. Caso o produto
desejado não fosse encontrado na região, era necessário recorrer às lojas
conhecidas como ”vendas,” que foram o
primeiro tipo de instituição comercial da região. Nestas vendas o comerciante
adquiria o que sobrava da produção familiar e trocava por produtos que trazia
de fora. O vendeiro fazia o transporte do que arrecadava até Itajaí e lá
comercializava conseguindo assim seu lucro. Procurando bem ainda encontramos,
quem sabe nas casas de opas e omas, nonos e nonas, avôs e avós um pouco desta
tradição que apesar do insistente avanço do concreto e cimento sobre o verde e
florido, resiste.
Pesquisa: Carlos Eduardo Michel.
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