"AÍ VEM AS ÁGUAS" - Revista CARTUM GASPAR nº 03


O vale sempre sofreu com as inúmeras cheias. As de 1880 e de 1911 foram as maiores. Não dá para deixar este tema de fora. Porém, tem pouca coisa escrita sobre. Assim, utilizamos o relato de Henrique Pedro Zimmermann. 

 Relato de Henrique Pedro Zimmermann

Estava chovendo há semanas. Chegavam notícias de que nas cabeceiras do Itajaí-Açu as chuvas eram muito intensas. Havia risco de enchente. O volume das águas foi aumentando, e o que era um agradável rio tornou-se uma furiosa corrente líquida. As casas de morada, os engenhos de açúcar e de farinha de mandioca, numerosos em Gaspar. Uma tragédia!!! Era meados de outubro de 1911 e a cidade estava inundada.

Como sempre acontece na iminência de um acontecimento desagradável os mais desconcertantes boatos também agora surgiam, sempre contraditórios, exagerados uns e por demais insignificantes outros. Não havia rádio nem TV e as notícias eram transmitidas verbalmente ou por meio de alguns poucos jornais, que demoravam dias para chegar às mãos de seus assinantes.

Assim, achava-se que havia muito exagero nas notícias e que a catástrofe de uma inundação não ocorreria. Esta suposição geral foi reforçada quando se verificou que já fazia dois dias as águas estavam subindo lentamente.

Um dia, ao anoitecer, papai foi verificar o nível das águas. Voltou apressadamente e mandou que todos nós subíssemos ao sótão espaçoso de nossa casa e para lá foram transportadas, apressadamente, algumas camas e colchões, alguns apetrechos caseiros e alguns alimentos. Mal tínhamos terminado estes afazeres já as águas estavam invadindo o terreiro de nossa casa. Às aves e os pequenos animais domésticos estavam em grande alvoroço e o gado, ia se retirando para um lugar mais alto. No dia seguinte, pela manhã, podíamos ver pelas janelas do sótão, que estávamos rodeados de água por todos os lados. Papai, com mais alguns homens, embarcaram numas canoas que tinham sido trazidas para perto de casa, na medida em que as águas subiam e trataram de conduzir para as pastagens de meu avô paterno, a dois quilômetros de nossa casa situadas em lugar mais elevado. Onde a água não era ainda muito profunda, o gado podia andar e nalguns outros lugares nadava.

O empecilho maior foi atravessar o ribeirão Gaspar Grande, agora com a corrente invertida, pois as suas águas já não corriam para o Itajaí-Açu, porém, do Itajaí para o interior. Ali, o gado devia ser levado à margem oposta, por uma barcaça, mas foi uma trabalheira enorme fazer os animais subirem na embarcação.

À tarde, as águas alcançaram 1,50 metros no interior de nossa casa. Foi então que papai resolveu retirar-nos de dentro da casa e levar-nos À casa de meu avô que ficava em local mais elevado. Para nós, crianças, essa foi uma das nossas grandes aventuras!! A olaria de meu pai estava só com os telhados de fora. ... Todas as plantações de cana de açúcar, de milho e de mandioca estavam submersas nas águas e se perderem inteiramente.

O que mais nos impressionou naqueles dias foi a visão que o rio nos oferecia. Estava, agora, transformado num grande mar em meio do qual se formou uma perigosa correnteza. Nela vinham rolando casas de madeira inteiras, estábulos e galinheiros e muita madeira. Touças de bambu, arrancadas pela fúria das águas....

Cadáveres de animais afogados misturavam-se com caixas de mercadorias das casas comerciais de Blumenau, cidade que, então, já estava inteiramente submersa.


De Itajaí foram despachados dois navios marítimos que deveriam ir em socorro da população de Blumenau, onde já os naviozinhos fluviais, Blumenau e Progresso, estavam prestando serviços de socorro. Ao chegar a Gaspar, esses navios não conseguiram transpor a curva do rio à margem esquerda. A correnteza das águas ali era de tamanha força, que os navios, quando pretendiam vencê-la, eram jogados de volta, sem obedecer à força de suas máquinas ou a seus lemes. À tarde daquele dia, após várias tentativas, voltaram para Itajaí.

Ficamos oito dias na casa de meu avô. ... quando voltamos para a nossa casa, ainda de canoa, esta nos ofereceu um aspecto desolador. O terreiro ainda estava cheio de água; a casa esteva coberta de grossas camadas de lama. Os móveis não puderam ser retirados, estavam virados e bastante estragados. ... A rua principal de Gaspar, junto ao rio, apresentava crateras profundas e a barranca do rio, em frente à praça da cidade, havia desmoronado, fazendo com que a rua ficasse bem à beira do rio.

 

A história se passa em outubro de 1911. Há semanas que as chuvas não davam uma trégua. Tudo molhado e encharcado.

As águas começaram a subir na madrugada de domingo.

“A enxurrada, traiçoeira e temível, invadiu as ruas, cercou as casas, arrombou portas e janelas tomando conta de seus novos domínios”

Pesquisa: Robson Gallassini (in memoriam).


MATERIAL NÃO PEDAGÓGICO.

APENAS DE ENTRETENIMENTO.

Os quadrinhos são meramente ilustrativos.

Para realizar pesquisas, consulte o ARQUIVO

 HISTÓRICO MUNICIPAL, ACESSANDO O LINK

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