NOS TEMPOS DA MADEIRA



A exploração da madeira nas terras de Gaspar

A extração de madeira foi uma das principais atividades econômicas realizadas nas primeiras décadas do povoamento das terras de Gaspar, onde os primeiros povoadores encontraram uma vasta e rica floresta, composta por enormes árvores.


Desde as mais remotas referências a vegetação do Vale recebeu especial atenção dos viajantes que logo perceberam a qualidade e abundância da madeira existente, e não demoraria muito para que passassem a explorá-la com fins comerciais. Adentrando a floresta os trabalhadores procuravam pelas melhores árvores, as mais altas, de tronco reto e de melhor qualidade como canela e cedro. Com a força dos braços, golpeavam o tronco com machados ou faziam uso de serras manuais até que, horas depois, a árvore era derrubada. Como cenas de uma batalha épica travada entre homens versus natureza, os gigantes da floresta foram derrotados, um a um. O ressoar dos machados contra o lenho prenunciavam o estrondo que trazia atrás de si enorme um emaranhado de sons, terminando com a árvore ao chão e trabalhadores exaustos. A mata fechada ia cedendo lugar a uma clareira, que mais tarde daria lugar a um pasto ou plantação.


Depois de derrubadas as toras eram conduzidas rio abaixo, primeiro através dos ribeirões até o rio Itajaí-Açu, depois através desse até o porto da Freguesia do Santíssimo Sacramento, atual cidade de Itajaí. As árvores próprias para produção e reparo de embarcações eram aproveitadas no Estaleiro das Naus, localizado, segundo a autora Leda M. Baptista, nas proximidades da barra do Ribeirão Arraial. Sobre essas atividades, a autora ainda cita o personagem Bento Dias “... que era carpinteiro à beira-mar. Construía barcos. Vinha para Belchior, subia os ribeirões e comprava a madeira em pé. Derrubava a árvore, puxava-a com bois até o ribeirão, depois para o Itajaí-Açu e daí para seu estaleiro, onde os barcos eram construídos com madeira leve. Um dos ribeirões de Belchior era conhecido como Ribeirão do Bento”.


A região era povoada, por volta de 1850, por pessoas de diversas origens. Pode-se citar a presença de luso-açorianos que habitavam essas terras desde as primeiras décadas do século XIX; colonos de origem alemã vindos da Colônia São Pedro de Alcântara criada em 1829; moradores de origem Belga que, depois do fracasso da Colônia Belga, se estabeleceram pela região; a presença de escravos africanos e negros libertos que trabalhavam nas fazendas locais, entre outros.
O historiador Édison D’Ávila apresenta algumas informações acerca dessa atividade que “... muito ocupava os primeiros moradores do Itajaí era a construção e o reparo de embarcações; atividade cumprida pelos chamados carpinteiros da ribeira. Além da excelente mão-de-obra que aqui existia, a nossa região era muito conhecida pela boa madeira, apropriada para a construção naval...”.
As madeiras extraídas no Vale eram transportadas através do rio até o porto de Itajaí. Depois de extrair a madeira do interior das florestas, tinham de transportá-la até o porto, o que era feito através do rio. Os colonos extraíam grande quantidade de toras e com elas formavam balsas que eram levadas rio abaixo até o porto, onde eram comercializadas. Esses homens ficaram conhecidos como ‘balseiros’.
A mata original que cobria nossa região, pelo menos a maior parte, já foi posta ao chão. A Mata Atlântica, com árvores frondosas e com suas copas largas a se projetarem para o alto foi reduzida drasticamente. Árvores como: Cedro, Peroba, Canela e outras são raros atualmente.


Com a chegada dos primeiros colonos, logo teve início a derruba para o plantio. A exploração de madeireira voltada para o comércio também teve seu papel na destruição das matas; o crescimento populacional e a ocupação de novas áreas continuam fazendo a sua.
No ano de 1848, quando o Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau, acompanhado de seu sócio Fernando Hackradt subiam o rio a fim de explorá-lo, teceu as seguintes considerações:
(...) Esse rio, verdadeiramente lindo, o mais importante da província de Santa Catarina, forma um vale romântico que se estende por vastas planícies limitadas por morros longínquos; surgem, de quando em quando, ilhas rochosas, cobertas de vegetação baixa... entremeados de algumas árvores mais altas. As suas margens, na maior parte já desmatadas, são habitadas por brasileiros e alemães, que aí construíram seus ranchos, morando uns próximos aos outros (...) .

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O contato dos primeiros povoadores de Gaspar com as Vilas vizinhas se dava através do rio, a bordo de canoas e balsas, através das quais chegavam até a Freguesia do Santíssimo Sacramento, atual cidade de Itajaí e a Penha etc. Buscava rever parentes, encontrar uma noiva para um dos filhos e mesmo reabastecer-se de peixes do mar, geralmente secos ao sol para melhor conservação.
Essas viagens até o litoral eram, na maior parte das vezes, demoradas e, devido aos afazeres domésticos, não podiam ser realizadas a todo o momento. A necessidade de venderem parte de sua produção, ou mesmo trocá-la por outros produtos, motivava essas viagens fluviais, haja vista que os caminhos por terra eram inexistentes e, quando existentes, de péssimas condições, cabendo ao rio o papel de via de comunicação.
Esses primeiros povoadores se estabeleceram na região por motivos de ordem econômica. As terras ao longo do rio Itajaí-Açu eram abundantes e férteis, proporcionando boas colheitas. Estabelecidos nas proximidades dos diversos ribeirões existentes na região, tinham água para consumo e para os animais, sem falar na atividade da pesca que lhes proporcionava alimentos com facilidade.
Além dos recursos providos pela agricultura, temos de levar em conta a atividade da extração de madeira, produto abundante na região. A mata atlântica intocada cobria todo o vale, de forma que a exploração de madeira era atividade lucrativa, porém trabalhosa. A extração de ouro também parece ter motivado a fixação de alguns dos primeiros povoadores, tendo em vista a quantidade de relatos acerca desse precioso metal, basta notar os muitos nomes de lugares e ribeirões que sugerem a existência de ouro, tais como: Minas; Arraial do Ouro; Ribeirão das Minas; Ribeirão Bateias etc.

Bibliografia consultada:
  BAPTISTA; Leda Maria. Simplesmente Gaspar. Blumenau: Editora Nova Letra, 1998. p.32.
  D’Ávila; Edison. Pequena história de Itajaí. Prefeitura Municipal de Itajaí/Fundação Genésio Miranda Lins. 1982. p.19.

Pesquisa: Robson Gallassini (in memoriam).

MATERIAL NÃO PEDAGÓGICO.
APENAS DE ENTRETENIMENTO.
Os quadrinhos são meramente ilustrativos.
Para realizar pesquisas, consulte o ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL, ACESSANDO O LINK ABAIXO:

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