A CHEGADA DA TROPA DE PEDESTRES
Entre flechas e espingardas: conflitos e confrontos nas terras do Itajaí-Açu
Com o objetivo de dar proteção aos colonos e inibir a presença dos Xokleng no Vale do Itajaí, o Governo da Província de Santa Catarina criou, em 1836, a Companhia de Pedestres. Este destacamento militar seria utilizado para (...) explorar e correr os matos, nos oito meses que decorrem de setembro a abril; fazer picadas de comunicação; proteger, auxiliar e defender os moradores de qualquer assalto dos nativos, perseguindo-os até seus alojamentos. Preconizava-se ainda que, em situação extrema, era recomendado que aniquilassem todos.
Com a criação das Colônias no Itajaí-grande e no Mirim, criadas a partir da Lei nº 11 de 5 de maio de 1835, e o aumento de moradores brancos – colonos – nos territórios povoados pelos Xokleng, os conflitos tornaram-se iminentes. Os colonos buscavam por terras férteis, onde pudessem se instalar e alojar a família para plantarem e explorarem os recursos naturais. As terras tinham sido prometidas pelos órgãos oficiais – Governo da Província – e além do mais, consideravam estas terras improdutivas, uma vez que não havia plantações nelas e que não consideram a forma de exploração levada a cabo pelos nativos. Os Xokleng, por sua vez, estavam protegendo seu território de caça e coleta de grupos que viam como invasores. Que a cada dia derrubavam mais áreas de floresta para dar lugar à lavoura e pastagens. Em virtude disso, diversos conflitos ocorreram e muitos deles com mortes.
A Companhia de Pedestres foi uma tentativa do governo provincial de expulsar os nativos da região a fim de garantir a ocupação das terras do interior e expandir a colonização. Essa tropa era formada por cerca de 15 soldados e comandada por um cabo e um sargento. Conforme o antropólogo Silvio Coelho dos Santos, as seções de pedestre foram organizadas e “... instaladas inicialmente em Itajaí e São Francisco. Sua organização admitia a presença de um sargento, um cabo e quinze soldados”.
Depois de instalados os arraiais de Belchior e Pocinho no Itajaí-Açu, e de assentados várias famílias de colonos, as incursões dos indígenas, que geralmente ocorriam nos meses de primavera e verão, fez retroceder os ânimos. Os relatos informam que muitos abandonaram a região logo no início devido ao medo de um enfrentamento com os nativos. As autoridades, receosas do fracasso do projeto de colonização que se iniciava, trataram de organizar a Tropa de Pedestres. Segundo palavras do Presidente da Província em seu relatório de 1838, a presença da tropa no Vale do Itajaí trazia alguma esperança aos colonos: “(...) hoje animados com a proteção que lhes oferece a seção de Pedestres, voltam às plantações abandonadas e que além destes, oitenta e sete indivíduos solicitaram e tem obtido concessões de terrenos nas colônias, montando a 321 pessoas as que com eles vão povoar (...)”.
A Tropa de Pedestres estacionada na Freguesia do Santíssimo Sacramento – atual Itajaí – esteve sob o comando de Agostinho Alves Ramos, criador e administrador das Colônias no Itajaí-grande e no Mirim. Sob seus comandos a tropa realizou suas incursões nas matas da região a fim de coibir a presença indígena e dar maiores proteções aos colonos.
No ano de 1843 a Tropa de Pedestres estacionada no Vale do Itajaí receberia novo comandante. Seu nome: Henrique Etur. Nascido no Desterro, anos depois se estabeleceu em Porto Belo, onde montou casa comercial e também exercia a patente de comandante da Guarda Nacional de Porto Belo.
Os registros apontam que em 1833 estava naquela cidade, porém, em 1836 vamos encontrá-lo na Freguesia do Santíssimo Sacramento – atual cidade de Itajaí – onde possuía uma lancha, provavelmente utilizada para realização de negócios comercias no Itajaí-Açu. Já nos anos de 1840-42, momento em que fora eleito para a câmara de vereadores de Porto Belo, lá se encontrava estabelecido. No ano de 1843, quando assumiu a Tropa de Pedestres, retornou à Freguesia do Santíssimo Sacramento, onde empreendeu as ações dos Pedestres a fim de proteger os colonos estabelecidos nos arraiais de Pocinho e Belchior, às margens do Itajaí-Açu, chamados de Colônias d’Itajahy. Documentos apresentados no livro de Leda M. Baptista mostram o nome de Enrique Etur como proprietário de terras na região intitulada de ‘Volta do Gaspar’.
Com o passar do tempo ficou visível que a Companhia de Pedestres não daria conta de realizar a efetiva proteção dos colonos, pois não se tinha como saber onde e quando os nativos apareceriam, e considerando a extensão da região e o pequeno efetivo da tropa, suas ações tornaram-se ineficientes.
Anos mais tarde, em 1856, depois da criação da Colônia Blumenau, a Companhia de Pedestres estava estacionada naquela cidade com cerca de 70 homens. Segundo palavras do Dr. Hermann Blumenau sobre a situação dos Pedestres a “cada cinco tiros que davam, falhava quatro, tal o estado de velhice do armamento, além da ferrugem que o consumia”.
Na realidade, a Companhia de Pedestres pouco podia fazer, “(...) pois viviam estacionados em locais que o índio não aparecia. Quando batiam nos matos, não encontravam índios. Quando usavam seu armamento, ele se apresentava em estado precário. Os pedestres não estavam habilitados, nem equipados para a função e com eles ou sem eles os índios realizavam suas incursões às terras dos colonos”. Assim, devido à falta de resultados positivos, a Companhia foi dissolvida em 1879.
Diante da ineficiência da “Companhia de Pedestres”, em 1877, na Colônia Blumenau, fora formada uma Companhia denominada de ‘Batedores do Mato’, que tinha por objetivo, de certa forma, substituir os trabalhos da Companhia de Pedestres, ainda em funcionamento, lembrando que foi extinta em 1879. “Os Batedores do Mato deveriam tomar medidas necessárias a pacificar os silvícolas ou, pelo menos, mantê-los afastados dos locais onde os colonos estavam a se localizar”.
Para chefiar esse grupo de batedores, fora escolhido um experimentado conhecedor da região: Frederico Deeke. Em vista dos enfrentamentos entre colonos e indígenas, com a extinção da Companhia de Pedestres, e juntamente dos Batedores de Mato, outras medidas foram tomadas. Sobre isso, ficamos aqui com as palavras do antropólogo Sílvio C. dos Santos.
Bibliografia consultada:
Dados retirados do Arquivo Histórico José Ferreira da Silva. (internet)
BAPTISTA; Leda Maria. Simplesmente Gaspar. Blumenau: Editora Nova Letra, 1998. p. 75.
Santos; Op. cit., p. 65-66. 1987.
Santos; Op. cit., p. 70; 1987.
Op. cit; p. 76. 1987.
Pesquisa: Robson Gallassini (in memoriam).
MATERIAL NÃO PEDAGÓGICO.
APENAS DE ENTRETENIMENTO.
Os quadrinhos são meramente ilustrativos.
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