DA ONDE VEM AS IDÉIAS? (Capítulo 1 ao 8) - Revista CARTUM INTERATIVA nº 155.
Muitos leitores invariavelmente me fazem a mesma pergunta: DA ONDE VEM TANTA IDEIA para escrever as historinhas? De tanto responder a esta questão, acabei desenvolvendo um "modus operandi" que vou dividir em 8 capítulos, os quais serão apresentados a partir da edição de março de 2019, da Revista CARTUM, até dezembro, para quem tiver tempo para ler e quiser aproveitar:
DA ONDE VEM AS IDEIAS – Capítulo 1
PRIMEIRAS PROVIDÊNCIAS
PRIMEIRAS PROVIDÊNCIAS - Quando se planeja produzir um roteiro, seja para hq, teatro, cinema, redação, etc, os detalhes mais importantes a serem definidos são, nesta ordem:
1) Gênero de literatura (romance, aventura, suspense, policial, comédia, terror, ficção, etc.)
2) Tipo de narrativa (diálogo ou monólogo, com texto ou muda, se é na 1ª pessoa ou na 3ª, etc.)
3) Assunto abordado (se for uma comédia, pode ser um passeio atrapalhado na praia ou uma visita de parente chato, etc. E se for uma ficção, pode ser um contato com alienígenas ou uma máquina do tempo, etc.)
4) Detalhes importantes (é importante relacionar todos os detalhes importantes que não podem passar despercebidos, para que a cena seja melhor interpretada. Ex: se é calor ou frio, se é dia ou noite, para que tal detalhe seja representado de alguma maneira visível no desenho)
5) Quais personagens vão participar da história e suas respectivas características e grau de importância.
OBSERVAÇÃO: a maneira aqui sugerida para escrever roteiros é a forma pessoal como são criadas as Revistas CARTUM pelo seu autor, a qual vem funcionando há dezoito anos.
DA ONDE VEM AS IDÉIAS – Capítulo 2
BUSCA DAS IDÉIAS
BUSCA DAS IDÉIAS - Definidos os quesitos (gênero de literatura, narrativa, tema, detalhes e personagens), vem à mente a terrível batalha que se trava entre o lápis e o papel em branco: e agora? De onde vêm as idéias? O momento da concepção imaginária de um desenho ou de uma história em quadrinhos é um instante mágico em que entramos em contato com uma fonte criativa inesgotável. É como sintonizar uma rádio na freqüência da estação que se quer ouvir. Sintonizamos nossa mente no canal da criação.
Para produzir um RASCUNHO, precisamos buscar idéias a este respeito. Porque um bom texto não é aquele que impõe a opinião do seu autor, e sim, aquele que ouve e respeita as opiniões divergentes. Conversando com as pessoas comuns, ouvindo atentamente os mais entendidos em cada assunto sem menosprezar os leigos e lendo textos de diferentes fontes acerca deste tema, pode-se juntar as idéias necessárias para se produzir uma boa história! O artista que deseja ser escritor deve aprender a absorver as impressões que o mundo lhe transmite.
Basta estar atento para perceber como cada indivíduo é um universo distinto com reações diferentes dos outros. Logo, cada personagem deverá ter embutida uma personalidade singular que lhe conceda o papel de protagonista em determinados temas. Por exemplo, o Dagoberto, por ser um internauta incorrigível sempre assume um papel principal nas histórias que dizem respeito à tecnologia ou à comunicação virtual. Para escrever uma história dessas é preciso no mínimo se atualizar com as últimas novidades neste setor e solicitar informações com pessoas que estão inseridas neste contexto, para que os vocábulos, equipamentos, sistemas e redes sociais presentes na histórias possam ir se atualizando com o passar do tempo.
Estas são as primeiras providências a se tomar ao ter em mente escrever um roteiro. Mas o detalhe é que a “hora de ter idéias” não é a gente que decide. Acontece no dia-a-dia, nos horários mais improváveis. Quando menos se espera... CLIC... acende uma lampadazinha do lado da cabeça e uma grande idéia se apresenta. O negócio é desenvolver um “Caderno de Anotar Idéias”, o qual será o tema do próximo capítulo!!
DA ONDE VEM AS IDEIAS - Capítulo 3
CADERNO DE ANOTAR IDÉIAS
CADERNO DE ANOTAR IDEIAS - Escolhido o assunto a ser abordado, vamos buscar as ideias.
Nem sempre a memória me ajuda neste momento de acumular conhecimentos a respeito de um tema específico. Para isso eu utilizo um Caderno de 20 matérias para Anotar Ideias.
Como todo escritor já sabe, as melhores ideias surgem de relance onde menos se imagina, geralmente quando se está mais desprevenido. Procure estar sempre munido de algum papel e uma caneta para ir anotando todas as ideias que ocorram ao longo do dia (boas e fracas, pois a ideia que pode parecer fraca a princípio, é porque ainda não está pronta), onde quer que você esteja.
Ao final do dia todas estas ideias serão transferidas para o tal caderno. Anote também as ideias imaginadas, frases ouvidas e fatos testemunhados, o autor também pode esboçar imagens, como caricaturas de pessoas exóticas, modelos de roupas e acessórios, etc... O segredo é ir anotando as informações que a vida lhe proporcionar para que este precioso tesouro não caia no esquecimento.
Depois basta distribuir no Caderno de Anotar Ideias, em sua subdivisão específica, de uma maneira organizada e coerente! No momento em que for escrever algum roteiro, basta analisar os setores do caderno e acrescentar algumas das informações ali presentes para enriquecer o conteúdo do texto.
Com certeza o tal caderno pode ser substituído por arquivos no seu tablet ou outro recurso que o escritor estiver habituado a utilizar!! Divida o caderno em diversos setores. Exemplos: PLANEJAMENTOS; PROJETOS DIVERSOS; EMBRIÕES DE ROTEIROS; GAGS; ideias para TIRAS; ideias para NOVOS PERSONAGENS; Etc. Você pode desenvolver o seu caderno de anotar ideias da maneira que achar mais conveniente para facilitar o seu próprio processo criativo.
DA ONDE VEM AS IDÉIAS - Capítulo 4
BUSCA DE ELEMENTOS
BUSCA DE ELEMENTOS. - Para que o artista escreva bons roteiros, é necessário que aprecie a leitura de livros, revistas e jornais, seja bem informado, converse bastante e, antes de tudo, saiba conversar... Para SABER conversar, desapegue-se de suas convicções, receios, paradigmas em geral e entregue-se a uma troca de energia sonora com outro indivíduo, seja qual for sua idade, raça, filosofia política, time de futebol, congregação religiosa, classe social ou nível cultural.
Permita-se ouvir o que a outra pessoa tem a dizer, sem exigências. Ouça atentamente os mais esclarecidos, escute com atenção as crianças e os idosos, pois todos possuem uma impressão diferente da vida. Mas, acima de tudo, não limite-se a grupos específicos... converse com toda a humanidade!! Não faça dos seus textos uma doutrinação ideológica, e sim, um diálogo a quem estiver aberto para recebê-lo!! Declarando a sua opinião, sem falsidade, mas aceitando as diferenças e ouvindo todas as objeções.
Não precisa basear-se apenas nas suas experiências próprias. Pode buscar temas, características, dados e informações adicionais para agregar valor ao roteiro, através de pesquisas na Internet, livros, jornais, etc. Ex: Personagem indígena (ver costumes, tradições e trajes típicos indígenas, formas de expressão e habitação da aldeia, representados com o devido respeito); Cenário Pitoresco (para enriquecer uma HQ que se passa em determinado estado ou país, pode-se pesquisar sobre hábitos e costumes locais, pontos turísticos, vegetação, clima, etc.).
Enfim, ao escrever HQs podemos incluir interessantes informações históricas, geográficas, culturais ou sociais obtidas em rápidas navegadas na internet (em fontes confiáveis) ou visitas à biblioteca. Afinal, HQ também é cultura. E é uma possibilidade de transmitir aos leitores algo que lhes acrescente valor à vida e lhes motive a continuar persistindo naquilo que é correto.
DA ONDE VEM AS IDÉIAS – Capítulo 5
DANDO ASAS À IMAGINAÇÃO
DANDO ASAS À IMAGINAÇÃO - Agora, tendo em mente o TEMA ESCOLHIDO, imagine situações!! Para imaginar situações, deve-se viajar com a mente: sentar confortavelmente numa poltrona ou almofada, afastar objetos que possam distrair sua atenção e direcionar o pensamento somente em direção do tema proposto.
Naturalmente irão surgindo as ideias, as quais deverão ser anotadas em um rascunho ou no “caderno de anotar ideias”, mesmo as que a princípio pareçam ridículas mas que na sequência possam vir a ser desenvolvidas. Tenha paciência: mesmo que demore um pouco, podemos encher uma folha de caderno ou mais em poucos minutos de persistência!
Após obter alguns dados técnicos sobre o tema escolhido, a próxima etapa é reunir possíveis situações que irão compor o seu roteiro: utilizando como tema a obesidade, podemos imaginar uma pessoa obesa trancada na roleta do ônibus, se rebolando para vestir uma calça, quebrando a cadeira da lanchonete com o seu peso, além do tradicional descontrole na quantidade de comida que ingere. Mas não se limitar aos aspectos desagradáveis, pois acaba se tornando BULLYING, imagine também coisas boas, como o goleiro obeso que se tornou o herói do jogo pois fechou o gol com a barriga, etc.
Às vezes quero muito escrever algo mas a ideia não se apresenta. Em outras ocasiões, estou entretido com afazeres cotidianos e surgem ideias brilhantes altamente aproveitáveis. A verdade é essa: Não existe “hora de escrever”! Ela se apresenta em algum momento que a nossa mente estiver relaxada e atenta, com o foco no momento presente. Quem conseguir direcionar sua mente dessa maneira intencionalmente está de parabéns. A mim e aos outros meros mortais só nos resta ANOTAR AS IDÉIAS em algum papel quando eu me encontrar no momento presente e ao chegar em casa, transportá-la para o caderno de anotar ideias, de onde seguirá rumo ao seu destino final: a página da revistinha!
Mas quando eu tiro um tempo para escrever, preciso cumprir os CINCO REQUISITOS, os quais serão publicados na próxima edição.
OS CINCO REQUISITOS
O desenvolvimento de um roteiro para HQ (ou redação, conto, crônica, letra de música) fluirá com mais facilidade, desde que se cumpram 5 requisitos básicos:
1) Esquecer preocupações e esvaziar a mente de qualquer pensamento senão o tema a ser desenhado. Em caso de tensão ou stress, desacelerar a mente momentos antes com uma intensa meditação, ou leitura de um bom livro ou música relaxante.
2) Estar bem relaxado (não é ficar despenteado, com a roupa suja e sem tomar banho, mas estar livre de tensões), num ambiente agradável, iluminado e arejado. Afastar objetos que possam tirar a concentração. Deixar o material necessário sempre à mão e reservar espaço físico para movimentar os braços.
3) Em estado de total desprendimento, com o foco naquele tema proposto para ser abordado neste roteiro, simplesmente acolha as ideias que forem chegando. Aos poucos vá anotando tudo o que passar pela sua cabeça: imagens, situações, frases, menções... quanto mais detalhes, melhor. Tudo pode vir a ter alguma utilidade no objetivo final.
4) Após algum tempo reunindo todos os dados que foram possíveis obter, a meta agora é organizar os dados disponíveis e montar uma trama. Seria como costurar uma COLCHA DE RETALHOS. Utilizando as informações que você anotou e mantendo o foco no assunto em questão, procure imaginar uma situação com COMEÇO, MEIO e FIM (um desfecho que justifique o tempo investido pelo leitor).
5) Para buscar ideias, o artista deve estar bem informado, ler constantemente livros, jornais e revistas e estar sempre recebendo impressões da vida. Num simples passeio pode-se testemunhar uma sequência de fatos, que, quando bem organizadas, rendem um bom enredo.
DA ONDE VEM AS IDÉIAS - Capítulo 7
MÃOS A OBRA
Já escolhemos o gênero de literatura, tipo de narrativa, um tema a desenvolver, assuntos técnicos a respeito devidamente pesquisados e situações pitorescas devidamente imaginadas, agora chegou a hora de escrever
O ROTEIRO EM SI!! Confira como funciona a gestação de uma ideia:
1) RASCUNHO - Esta linha de raciocínio deve conter um INÍCIO ( que deixe bem claro COMO, ONDE e PORQUE tudo está acontecendo, QUAIS os principais personagens envolvidos, onde estão e quais são as suas intenções); MEIO (com todo o desenrolar da trama, idas e vindas, que levarão o leitor a uma conclusão final) e FIM (um desfecho inimaginável, a solução de um mistério, uma piada engraçada, uma moral da história ou, quem sabe, tudo isso junto.) É nesta fase que se define quantas páginas vai ter a história, e quantos quadrinhos vai ter cada página, de acordo com o volume de informações e textos que irão ocupá-los.
2) ARREDONDAMENTO DO TEXTO - Então é hora de botar a imaginação pra trabalhar: no começo é meio difícil, às vezes tem que fazê-la pegar “no tranco”, mas com o tempo ela vai se soltando para costurar a tal “colcha de retalhos” com tudo o que foi anotado nas pesquisas feitas, nas situações imaginadas e no que já havia sido anotado no “caderno de anotar ideias”. Basta mentalizar fixamente o tema escolhido e criar uma SEQUENCIA DE FATOS coerente e interessante. Vá anotando tudo o que lhe ocorrer à mente, da maneira como for imaginando. Reflita sobre as possibilidades e defina as situações que irão ocupar cada página da história.
3) REVISÃO DO TEXTO - Por último, releia tudo modificando o que não tenha ficado bom e acrescentando novos detalhes. Revise o texto, corrigindo erros ortográficos, gramaticais, de concordância, e... está pronto o seu roteiro!
DA ONDE VEM AS IDÉIAS – Capítulo 8 (FINAL)
DISTRIBUIÇÃO DOS TEXTOS
Neste último capítulo vamos dar um exemplo de distribuição do roteiro de história em quadrinhos nas páginas da revista. É preciso definir o TAMANHO de cada quadrinho de acordo com o volume de texto e imagens necessários para transmitir a ideia completa de cada cena.
Na distribuição deve conter algumas informações: quem são os personagens, o que estão sentindo (para compor a sua fisionomia) e o que estão dizendo. Vale informar as alterações de volume (sussurro se desenha com a boca semiaberta e gritos com a boca escancarada).
Em uma folha em branco, delimite o tamanho da página. Depois, risque os quadrinhos, com o seu tamanho já pré-definido. Na sequência, olhe fixamente para cada quadrinho, imaginando o espaço que vai ser destinado para textos e desenhos. Agora escreva os diálogos e onomatopeias nos lugares escolhidos. Delimite os diálogos com balões. Por exemplo:
PÁGINA 1, QUADRINHO 1: O Zé (feliz da vida) encontra o João (cabisbaixo) e diz: "Bonito dia, não?" - E o João (desanimado) responde: "Eu acho que vai chover!”
PÁGINA 1, QUADRINHO 2: Ouve-se uma trovoada, Zé e João aparecem mudos e assustados.
PÁGINA 1, QUADRINHO 3: Zé e João correndo para abrigar-se da chuva iminente, Zé diz indignado: "Você e sua grande boca, João...”.
Agir assim até concluir o texto, dentro dos parâmetros que haviam sido estipulados. Depois é só apontar bem o lápis e começar a desenhar! Mas aí já é tema para outros 8 capítulos...
De qualquer maneira, utilizando ou não os recursos contidos nestes capítulos, procure caprichar bastante e faça com que o seu leitor tenha a certeza de que valeu a pena ter desperdiçado alguns minutos da sua vida folheando páginas para ler o fruto do seu esforço!
BORA PRODUZIR UM TEXTO, ENTÃO!!
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