BRUSQUE ONTEM - "A pequena propriedade policultora" - Revista CARTUM INTERATIVA nº 192.
No Vale do Itajaí existe uma concepção, um pensamento popular muito comum, que diz que em casa de alemão sempre tem jardim e horta, mesmo nas mais pobres.
De fato, ao analisarmos historicamente a arquitetura de nossa região, e não apenas a alemã, mas também a de famílias de diversas origens, encontramos nos arredores das casas (espaço que se costuma chamar de “terreiro”), locais reservados para a plantação de flores, ervas, verduras, legumes e árvores.
Além disto também não será difícil encontrar em várias moradias, cercados para a criação de animais como galinhas e porcos.
A PEQUENA PROPRIEDADE POLICULTORA
Esta organização do ambiente residencial está ligada à história da colonização na região: boa parte dos imigrantes do século XIX em Brusque eram agricultores na Europa e tinham como objetivo poder trabalhar na terra de sua propriedade aqui no Brasil.
Ao chegar, o que era um objetivo se
torna uma obrigação, uma questão de sobrevivência já que o comércio neste
período é muito escasso e caro. Não havia estrada ligando Brusque ao litoral, e
nem veículos velozes como os atuais para carregar produtos vindos de outros
lugares, restando a via fluvial.
Os colonos plantavam em seus terrenos “de tudo um pouco” e juntamente com a criação de animais era possível produzir diversos gêneros de produtos totalmente artesanais como: carne defumada, toucinho, banha de porco, queijo, nata, manteiga, e o famoso mus ou schmier (lê-se chimía), que é a geléia ou compota de frutas. Aquilo que sobrava era trocado entre os vizinhos.
Caso o produto desejado não fosse encontrado na região, era necessário recorrer
às lojas conhecidas como ”vendas,” que foram o primeiro tipo de instituição
comercial da região. Nestas vendas o comerciante adquiria o que sobrava da
produção familiar e trocava por produtos que trazia de fora. O vendeiro fazia o
transporte do que arrecadava até Itajaí e lá comercializava conseguindo assim
seu lucro.
Com o processo de urbanização e industrialização, surgem novos tipos de trabalho que exigem dedicação do empregado fora de casa, diminuindo o tempo para as lides com as plantas e animais. Os conhecimentos e as práticas artesanais vão sendo aos poucos trocados pelas práticas comerciais e com o passar dos anos, são esquecidas.
Percebemos o desaparecimentos de muitas hortas e jardins, mas procurando bem ainda encontramos, quem sabe nas casas de opas e omas, nonos e nonas, avôs e avós um pouco desta tradição que apesar do insistente avanço do concreto e cimento sobre o verde e florido, ainda resiste.
No Brasil o colono também precisou adaptar as plantas que eram comuns na Europa mas escassas no Brasil, caso do trigo que foi substituído pela farinha de mandioca e milho, carne fresca por charque, centeio, leite e queijos por feijão.
A farinha de trigo era a base alimentar do alemão em sua terra natal. No Brasil, ao contrário, a farinha de trigo era escassa, sendo substituída pela farinha de mandioca e pela farinha de milho, o fubá. Destacam-se outras mudanças como: substituições de carne fresca, centeio, leite e queijos usados na Europa pelo charque e pelo feijão.



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