BRUSQUE ONTEM - Tiro de Guerra - Revista CARTUM INTERATIVA nº 158.

 


A primeira lei que trata do serviço militar no Brasil data de 1822. Nela o serviço militar é tido como uma punição a quem era considerado desocupado ou quem desempenhava uma atividade que não contribuísse com a “prosperidade e desenvolvimento econômico do país”. No período inicial de recrutamento os voluntários eram esperados, após 15 dias, o exército forçava jovens a se alistarem para preencher o número total de vagas. Quem fosse escolhido prestaria serviço que poderia durar de 4 a 6 anos. Neste caso, a atividade militar era considerada uma espécie de degradação social, ela era para órfãos, ex-escravos, sedutores, vadios, ‘pervertidos’ e ladrões, não para “homens e filhos de família”. O lugar para os bons moços era a Guarda Nacional, espécie de organização paramilitar criada em 1831 em que participavam apenas homens de alta renda.



Em 1874, mediante a promulgação da Lei do Sorteio Militar, buscava-se melhorar o sistema de recrutamento. Essa Lei estabeleceu o recrutamento universal voluntário ou através do sorteio dos cidadãos alistados anualmente. Ela também não resolve o problema: quem serve o exército são apenas jovens pobres que não possuem condições de pagar ao governo para não servir ou oferecer algum substituto em seu lugar. Esta situação – a fuga ao serviço militar – acontece não só no Brasil, mas também nos EUA que enfrentaram na década de 1860 uma Guerra Civil, na França revolucionária do início do século XIX: O Exército parecia uma sentença de morte e sem benefícios para quem se arriscasse.

No final do século XIX e início do século XX acontecem mudanças significativas no serviço militar. Na tentativa de reorganizá-lo e torná-lo mais justo novas leis são promulgadas. Em de 4 de janeiro de 1908 foi lançada a Lei no 1.860, tratando de novas regras para o alistamento e serviço militar. Agora ele seria controlado por um órgão federal e a seleção deixa de ser apenas feita entre homens excluídos da sociedade. Apesar desta lei ter sido promulgada em 1908 as novas regras só foram adotadas em 1916. Neste ano o secretário do Estado de Santa Catarina Fulvio Aducci, visita Brusque e uma comissão da elite brusquense o procura para solicitar a organização de uma Linha de Tiro em Brusque. A Solicitação é atendida e em 22/03/1917 está fundada a Linha de Tiro de Brusque.

Neste período o Brasil vive uma verdadeira campanha pró-exército - devemos nos lembrar que a I Grande Guerra ocorreu entre 1914 e 1918, movimentando a política e sociedade brasileira -, um dos líderes desta campanha foi o poeta Olavo Bilac. Dentro deste contexto se populariza a instituição que é a semente do atual Tiro de Guerra: as Linhas de Tiro. Em 1902 foi fundada na cidade de Rio Grande, RS a Sociedade de Propaganda do Tiro Brasileiro, este grupo divulgava o modelo suíço de serviço militar, onde os cidadãos recebiam uma arma, instrução de tiro e passavam a formar a reserva do exército. Com o passar dos anos surgiram várias Linhas de Tiro pelo Brasil, Brusque recebeu a de número 317. Esta instituição era uma espécie de “clube de tiro oficial”, seus membros pagavam mensalidade e ela recebia benefícios do governo para a aquisição de equipamentos. Após a instrução básica o sócio se tornava reserva do exército regular. Deste modo os membros da elite social, substituíam o serviço militar obrigatório pela instrução nos Tiros de Guerra.



O Tiro de Guerra e o serviço militar, em Brusque era entre a casa do sr Leopoldo Fischer e o bar do seu Machado. Lá havia, naquele tempo, o Tiro ao Alvo do Sr.Osni, e também duas barracas de bijuterias e revistas. No prédio dos fundos, consertos de geladeira e Oficina do Wenceslau Beber. Em frente, o Cine Coliseu.

 Em 1917, ano da fundação da Linha de Tiro Brusquense o governo tenta militarizar de modo mais contundente suas instituições, exercendo maior controle sobre a formação e administração das unidades pelo Brasil. Justamente neste período percebemos uma diminuição no número destas instituições pelo Brasil. Das 545 existentes até o início de 1918 em dezembro deste ano restam apenas 461. Destas 300 estavam sem armamento para estudo, 260 não tinham armamento para exercícios militares e 177 não possuíam instrutores. Brusque é uma das cidades afetadas, e no fim de 1918 fecha as portas da Linha de Tiro. Ela só vai voltar a existir 10 anos depois, em 1928, na sede do Clube de Caça e Tiro Schützenverein (Hoje Araújo Brusque). A sede atual na rua Felipe Schmidt foi fundada em 1941.

Durante a década de 1930 e 1940 as sociedades de tiro sofrem bastante modificações. Em 1945 elas deixam de existir definitivamente, dando lugar aos Tiros de Guerra, sua finalidade é formar soldados de 2ª reserva. Porém os antigos sócios ainda permanecem financiando a instituição junto as prefeituras municipais. Esta situação tem fim com a lei militar de 1964 que dá as bases do serviço militar e se mantém até a atualidade e com a portaria 255 de 1967 que acaba com as sociedades ligadas aos Tiros de Guerra, tornando definitivamente eles instituições exclusivamente militares.

 

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