BRUSQUE ONTEM "Nacionalismo Forçado" - Revista CARTUM INTERATIVA nº 159.

 

Em 1930 acontece no Brasil o golpe que leva Getúlio Vargas ao poder. A marca registrada de seu governo são as mudanças estruturais que ele promoveu em diversos setores da sociedade, especialmente após 1937, quando inicia a ditadura do Estado Novo e Vargas passa a agir de maneira autoritária e bastante contundente.



Um dos grandes projetos de seu governo era a política nacionalista. Vargas procurou formular uma identidade nacional homogênea, e para isso precisava afastar as influencias culturais que os imigrantes traziam para a sociedade brasileira. Neste período em regiões como o Vale do Itajaí, boa parte da sociedade matinha os hábitos culturais de seus países de origem ou de seus antepassados. E entre esses hábitos, o mais importante era uso da língua estrangeira. 

O alemão e italiano eram utilizados nas ruas, igrejas, escolas, trabalho, casas, em todos os lugares. Era utilizando a língua que essas pessoas construíam suas identidades e relacionamentos.


Por este motivo o programa de nacionalização vai ter como foco central o ataque ao uso da língua estrangeira no Brasil. O Decreto 406 de maio de 1938 proíbe o uso e ensino de língua estrangeira nas escolas, determina que todos os professores e diretores fossem brasileiros natos, e proíbe que livro, revista ou jornal circulasse em língua estrangeira. Pelo Decreto 1025 de 25 de agosto de 1939, os secretários estaduais de educação deveriam construir e manter escolas em áreas de colonização, fiscalizar o ensino de línguas estrangeiras bem como intensificar o ensino de História e Geografia do Brasil. 

É instituída a matéria de Educação Moral e Cívica que divulgava os valores nacionais aprovados pelo governo. Além disto clubes e associações que tivessem atividades ligadas a outras culturas tiveram que ser fechados. 

Em Brusque a Sociedade de Caça e Tiro Schutzenverein foi fechada e passou a ser inicialmente ocupada por policiais, servindo como depósito de carros apreendidos, combustíveis, e demais materiais militares. Só pode reabrir as portas em 1948 após o fim da Guerra e do Governo Vargas com seu nome alterado para Sociedade de Caça e Tiro Araújo Brusque.




Quando o Brasil entra para a guerra junto aos Aliados em 1942, a perseguição aos imigrantes se torna ainda mais severa. O uso da língua estrangeira (especialmente alemã, italiana e japonesa), a posse de objetos, fotografias, livros... ligados a nacionalidade dos inimigos  passa a ser crime. Suspeitos de defenderem ou serem simpatizantes da causa nazista são perseguidos e presos, seus bens são tomados pelo governo, eles eram conhecidos como “quinta-coluna” (expressão que designa o estrangeiro que no Brasil age em favor do nazifascismo). 


Quem era pego muitas vezes era submetido a tortura, interrogatórios e julgamentos sumários. Uma prática comum era obrigar o suspeito tomar líquidos como o óleo de rícino, que provocava disenteria e uma série de malefícios ao organismo. O direito de ir e vir destas pessoas é controlado pelo governo, passa a ser necessário uma autorização para transitar pelo país. Entre 1942 e 1943, foram realizadas 1227 detenções e 27 inquéritos por uso de idioma alemão e italiano em Santa Catarina, sendo que a maior parte dos casos se deu no Vale do Itajaí. Até mesmo campos de concentração passaram a existir no país, cerca de 3000 pessoas foram confinadas neles durante a guerra. Em Santa Catarina o campo oficial ficava no bairro da Trindade em Florianópolis.

 A política nacionalista torna a cultura estrangeira um crime. Isto gera um trauma nos imigrantes e descendentes pois sua identidade é arrancada e substituída por um falso sentimento de brasilidade construído pelo medo e imposição do governo.

 

Pesquisa: Carlos Eduardo Michel.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Respostas das PALAVRAS CRUZADAS da Revista CARTUM INTERATIVA nº 179.

CURIOSIDADES SOBRE OS BAIRROS DE BRUSQUE - Manual do Brusquense.